quarta-feira, novembro 30, 2005

Ao telefone com Deus

Os dedos calcorrearam o teclado, marcando um qualquer número desconhecido ditado pela ânsia só permitida quando a ligação se estabelece baseada em convicções ou falta delas quando apenas se ouve a própria voz do outro lado.
Éramos alguns, decerto muitos e talvez muitos mais, os que em línguas, dialectos, linguajares e intenções nos precipitávamos para ouvir quem atendesse, ora em chamamentos, ora em orações de gente apinhada em credos que ora unem irmãos, ora afastam infiéis.
Em anonimato de silêncio, encontrei a minha voz junta aos ouvidos atentos às respostas para as perguntas que ousara colocar:

- Porque sofrem as crianças, idosos e mendigos, às mãos dos que os deviam cuidar ?
- Porque matam, os assassinos, inocentados nas inércias das nações ?
- Porque acusam, os que são culpados, amnistiados nas cumplicidades dos políticos ?
- Porque guerreiam, os que os inocentes não satisfazem com as suas vidas e o seu sangue ?
- Porque roubam, os que já muito tendo, apenas partilham a má sorte ?
- Porque têm fome, os que servem a fartura ?
- Porque proclamam humildade, os que se fardam na opulência ?
- Porque rezam os infiéis ?

Terá respondido Deus, em palavras facilmente entendidas por quase todos à minha volta, cristãos, judeus, muçulmanos, hindús, budistas e outros crentes que em clamores de entendimento, remeteram ao silêncio o meu sentimento de não ter compreendido as respostas.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Vazio

Faz hoje um mês que publiquei o último artigo. Faz hoje um mês que o vazio tomou a forma da incapacidade de dizer e escrever algo com sentido, qual final de viagem que termina num adormecer que não dá descanso nem quietude.
Foi longa a viagem após ano e meio, e duros os dias e as horas que se sucederam em catadupas de episódios onde não faltou a solidão, o sofrimento e a má vontade que caracteriza os que angelicalmente infernizam a vida a quem por vezes tanto devem.
Foram tempos, onde a ignorância dos factos condecorou falsos juizes, mais apressados em acusar que julgar, em orgias de maldade.
Foram tempos, onde apenas a dignidade e a hombridade renitentes, sustentaram intransigentes, cada momento para dar lugar ao seguinte, sempre igual ao anterior.
Foram tempos onde conhecidos, amigos e inimigos se denunciaram em quem se alheou, em quem acompanhou e em quem virou as costas.
Relembro com apreço alguém em particular que em face dos anos convividos, não hesitando se colocou ao lado, confiante no discernimento que o mérido demonstrado durante anos, não permite duvidar aos que premeiam os mesmos princípios de justiça, que apenas a afinidade de cunhado, me impede de chamar de irmão, de quem, fartos ensinamentos o destino me concedeu.
Resta portanto, deixar que o pó que por despeito outros levantaram, assente, sepultando os acólitos do mal, tornando mais fértil o caminho por onde a dignidade caminha.
Resta portanto, deixar aos deuses a justiça que os homens não sabem fazer.

Dedico este artigo ao meu cunhado, com quem tenho a honra de partilhar uma profunda amizade e princípios de vivência e com quem tenho aprendido muito ao longo destes anos, tendo-se tornado para mim, uma referência de dignidade e de justiça. É de facto, e tem sido, uma das pessoas mais importantes na minha vida e de quem mais gosto, o que espero, se venha a estender ao meu filho, como eu gosto do meu sobrinho.
Obrigado Anselmo, fizessem os deuses de ti, o irmão que eu gostaria de ter.