segunda-feira, junho 20, 2005

Os carrascos do diabo




Há tempos, alguém me comentou que achava ilógico a adoração de Cristo na cruz, atendendo que não fazia sentido adorar a situação em si, uma crucificação e todo o sofrimento inerente.
É de facto um raciocínio respeitável e no meu entender, seria lógico, se não fosse a mensagem aparentemente subjacente, ou seja, sobre o sacrifício do próprio Jesus, supostamente pela humanidade em tudo o que ela encerra, de bom e de mau.

O facto de alguém se sacrificar pelos outros, sempre me mereceu o maior respeito, o que acrescido da raridade de ocorrência, se torna em algo, cada vez mais incompreendido nos nossos dias. Entendo que o se sacrificar por alguém, constitui a mais nobre das acções, sobretudo se disso não se esperar benefício algum que não seja a da satisfação de bem ter feito (aquilo a que chamo realmente de “bondade”).

Ao longo da minha vida, foram raras as pessoas a quem efectivamente posso chamar de “boas”, pois muitas das vezes, a acções de pressuposta bondade sobrevem a verdadeira natureza de carrascos do diabo, em acções que clara e infelizmente, frequentemente reduzem as primeiras a sublimes mas esforçadas tentativas de cristandade diluídas em orações de devoção duvidosa que procuram esquecer o mal que não conseguem apagar.

Quantas são as mãos com dedos já tingidos pelo óxido da prata das contas dos rosários de devota estima, que se juntam às bocas cansadas dos beijos piedosos a crucifixos usados em doutas atitudes, quase sempre adornadas em piedosas poses de candura com vozes mansas de capa adocicada.

As mesmas mãos que ora ajudam quem se levanta, para logo depois apontarem em atitudes que a Pilatos fariam inveja e a Jesus envergonhariam num desalento de vão sacrifício e pregação.
As mesmas bocas que ora acalmam na dor, para logo com sábia manha , em enredos e intrigas que ensombrariam o pior dos Judas, para logo acusarem em sofrimentos dignos de uma Maria indefesa.

Quantos templos de maldade e de maledicência meu Deus, quantas hóstias e confissões sustentam almas que com os olhos postos em Deus, se vão aproximando do Diabo, que com gestos e olhares de vítimas, vão castigando em atitudes de carrascos, como se em vontades de salvação fossem destruindo o que antes queriam salvar.

Seja o tempo a purificar os templos da má fé e a verdade de uma justiça incontornável a submeter os agiotas de uma moral duvidosa.

1 comentário:

SDF disse...

Ia comentar aqui, mas o texto tornou-se demasiadamente longo e acabei por fazê-lo no meu próprio Blog. Quem estiver interessado em ler, poderá fazê-lo em www.cobrecanela.blogspot.com

Não aconselhado a beatos sensíveis. O texto é duro.