sábado, julho 23, 2005
Chove
Chove lá fora,
As gotas caiem precipitadas, como as palavras que te lanço,
O chão fica molhado como as minhas frases de mim,
E enquanto as nuvens passam e o sol demora,
O desespero pela luz, torna-se quase um pranto,
Ou será que chove dentro de mim ?
Rui @t Blog, 14-10-2002
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Porquê ?
Porque olho a lua,
E te busco uma e outra vez ?
Porque dizes o meu nome, senão me vês ?
Porque caminho,
Em caminhadas sós e loucas ?
Porque me chamas, se não me tocas ?
Porque escrevo,
Em mim, em ti, nas ruas e praças ?
Porque me amas, se não me abraças ?
Rui @t Blog, 20-10-2002
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terça-feira, julho 19, 2005
Lusíadas de hoje
(Desencanto I)
As damas e os figurões assinalados
Que da anormal política Lusitana
Por votos quase sempre enganados,
Pousam santos, gente insana,
Em embustes e ganância esforçados
Mais do ousa a vontade humana,
E entre gentes crentes edificaram
Novos ricos, que tanto abastaram;
E também as cousas gloriosas
Daqueles que as posses foram dilatando
A Fé, o Ensino, e as artes viciosas
De todos nós andam devastando,
E alguns que por obras duvidosas
Se vão pela Morte doutros arrogando,
Cantando os vemos por toda parte,
Que a roubar os ajudam o engenho e arte.
Cessem do inglês e do americano
Os ataques aos povos que fizeram;
Cale-se do espanhol e do italiano
A fama das vitórias que não tiveram;
Que eu choro o peito luso insano,
No desprezo que aqueles mereceram.
Cesse tudo o que este povo não canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
E vós, gentes minhas, pois criado
O sustento de tal vil gente ardente,
Se sempre em engano foi celebrado
O que àqueles foi dado tristemente,
Dai agora um som alto e enraivado,
E bani de vez tal fétida gente,
Por que de vossas bocas ordene
Os que a vossa dor diária condene.
Tende uma fúria grande e sonorosa,
Quais diabos afastados por arruda,
Numa atitude viril e belicosa,
Que o peito acende e a razão o gesto muda;
Nem estádios ou armas torne famosa
Esta gente que a sorte pouco ajuda;
Que se espalhe em pedaços no universo,
Gente vil que não caiba em verso.
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da vida Qualidade;
Vós, ó novo temor da Sociedade lança,
Voto fatal da vossa sanidade,
Dada a este mundo, que todo o mande,
Gente séria e de alma grande.
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sexta-feira, julho 15, 2005
Aqui me tendes subcelência
Aqui me tendes subcelência, de boa fé, no trato e mensagem que ora aqui vos dedico.
De vosso nome Alberto, como outros vos considerais dessa ilha, rei ou príncipe, ainda que da república alimenteis farta a vossa barrigança e encheis o vosso odre.
De nome João, não vos reconheço o santo, que na imagem procurais no íntimo remeter-vos, pois que do Demo mais próximo vós estais.
De Jardim, nem odor nem formosura vos assiste à imagem de flor, que nenhuma destas se toma tal semelhança em tão má figura.
Em título de doutor vos consentis senhor, inda que para vossa resignação, mui magra classificação tenhais obtido em continental universidade. Consciente decerto que se carregado de escrituras qualquer asno com doutor se parece, qualquer doutor com vossa doutrina com asno se confunde.
Em terra de boa uva e vinho vos encontro senhor, e que dos mesmos dais boa prova, seja nas falas como nos termos e propósitos que as faces e apêndice nasal vos ousam denunciar. Da comida igual elogio vos têm essas terras e mar, já que o vosso porte das boas carnes em testemunho se encontra e das lapas e mariscos o apego ao poder e o vosso intelecto, iguais se acham.
Ilude-vos senhor a capacidade de conseguir juntar poucas mais que algumas palavras para, em vil atitude, insultardes outros que insulares não sejam. Já Sir Darwin identificara que os mais raros seres em ilhas apraz encontrar, inda que na teoria da evolução, dificilmente vos reveja, que não seja por copos e talheres saibais usar sem vos ferirdes.
Vos reconheço todavia na ira e nas injúrias, que a amiúde lançais aos restantes, e que espero que tal intenção nunca a vós próprio arremesseis, pois que muito tempo e insultos vos faltariam para justamente vos qualificardes e espelho algum se aprontaria a tal disposição.
Contudo, vos aplaudo senhoria, em fartos e bebidos entreténs, com que divertis os vossos súbditos, onde na lucidez e embriaguez tendes a assistência sobre vós indecisa, embora não menos divertida, em aplausos com que vos iludis senhor, qual bobo de corte fantasiada nos cortejos de um Carnaval eterno.
A alma me dói senhoria, pelas crianças da vossa ilha em ganhos de turistas com alguns de má fama, que na vossa atenção não encontro, que a insultos não vos vejo em demanda os pedófilos nem pederastas, que contra estes não vos oiço a voz. Saiba isso Deus porquê, que o receio da resposta me faz temer perguntar.
Saiba assim vossa mercê, que em virtudes não vos encontro e que na vil arrogança que tendes pelos demais, por vós em igual cagança me encontrais como a muitos mais.
Triste povo, que sem razão, se junta qual bando a tal figurão.
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sexta-feira, julho 08, 2005
Adubo para o cabelo
Pois é meus caros, de facto o Herman José tem sido um dos cómicos vivos mais apreciados do nosso país.
Quem de nós não o imitou em alguma ocasião ? Quem de nós não se riu já, de algumas das suas piadas ?
É verdade, raramente o talento e a inteligência se encontram em tanta abundância numa só pessoa, para deleite dos demais.
Contudo, o nosso povo costuma dizer que “no melhor pano cai a nódoa”, prenúncio a que aparenta nada escapar e assim o nosso cómico igualmente se submete àquela lei universal.
De facto, à parte as acusações de pedofilia, que já por si seriam suficientemente penalizadoras no apreço que pudesse merecer, custa ver aquele esfrangalhar constante de talento em jorros constantes de atitudes ordinárias e de total desrespeito pelos outros.
Longe vai o tempo em que nos fazia rir de forma sadia e consensual.
Agora não lhe basta ser mal educado, como se tivesse de se refugiar na asneira para fazer rir, não lhe basta expor convidados idosos e de encanto que ele nunca terá a poses de ilustração viva de um qualquer Kamasutra, não lhe basta parodiar gente falecida, onde se inclui a Madre Teresa de Calcutá, ente a que nunca aspirará sequer tentar seguir, não lhe basta ostentar-se em atitudes de falsa modéstia, como também chega a gozar os outros, independentemente do seu estado ou convicção.
De facto, dá-me pena quando um cérebro com vocação de talento e inteligência é remetido para o estado de adubo para o cabelo.
Publicada por Rui Gonçalves à(s) sexta-feira, julho 08, 2005 2 comentários
quarta-feira, julho 06, 2005
O menino de ouro
XXIV-V-MCMXCII: A porta da maternidade abre-se como a fachada de um templo qualquer e os meus pés tomam vida própria, galgando as escadas como o vento sobre as dunas do deserto.
Finalmente, no final do corredor , com um sorriso arrebatado à felicidade da mãe, sorridente aparece o meu cunhado, qual faraó agraciado pelos deuses trazendo nos braços uma alcofa como uma flor de lótus onde se aninha o mais belo dos deuses primordiais.
Apresso-me a tocá-lo qual Midas aspirando a elevá-lo ao mais puro ouro de lei.
Assisto assim a um novo culto como no amanhecer dos tempos, a quem o passar dos anos reconhece a nova divindade, em cada nova palavra, na fala e na escrita.
Eis que no porte e gestos revejo Thoth, portador da força criadora, a quem por amor eu daria a Lua, qual Rá encantado concedendo-lhe o governo do céu e das estrelas.
Altivo e inteligente, lhe vejo a sensibilidade da flor do lótus onde foi embalado, da Lua o calor frio do discernimento num amor constante de pássaro irrequieto saltando de galho em galho à busca de algo novo por fazer e inventar.
De Osíris e Hórus, retoma com o pai a nobreza na defesa dos indefesos e aos mais fracos lança a mão, de quem baixa o olhar apenas para ajudar quem se levanta.
No governo do dia pela noite, já cansado vejo-o submisso aos deuses que o toldam ao sono profundo, adormecido no sono dos justos.
Qual esfinge protectora, ajoelho-me como tio e presto-lhe o culto de um pai, grato aos deuses, como o mais devoto dos crentes.
Publicada por Rui Gonçalves à(s) quarta-feira, julho 06, 2005 2 comentários