terça-feira, julho 18, 2006

Ensino: Alunos, Professores e Mestres-escola

Nos últimos dias tenho, à semelhança dos demais, assistido à novela (para não dizer tourada que a época agora é disso e por respeito aos alunos e à grande maioria dos professores) dos exames do 12º ano, alguns dos quais, aparentemente elaborados incorrecta e se for verdade o que por aí se diz, vergonhosamente.

Mas infelizmente, este não é um caso isolado, nem agora o Ministério da (In)Cultura ou da Educação ou de outro nome qualquer, que titule o ensino em Portugal, é pior do que tem sido antes.
Infelizmente, depois de Abril de 1974, ainda não apareceu um governo que dê ao ensino em Portugal, a atenção que este merece, uns por receio político (não sei de quê) de adoptar modelos do "passado", outros por estão revestidos de alguns "cursos superiores", daqueles que são usados como "refugo" de nada servir e de nada saber, outros ainda, porque são incapazes de resolver os problemas do ensino em Portugal, submissos à crença política generalizada de que quanto mais desapercebido o político passar, mais probabilidades tem de subsistir no aparelho do Estado, hibernando à espera da reforma choruda que saqueou ao desgoverno.

Ensino Básico:

Sim, aquele, que antigamente chamávamos de "Ensino Primário". Aquele que durante anos teve manuais que frequentemente passavam de mão em mão e que muito dinheiro pouparam a quem os reutilizou. Aprendia-se na mesma a ler, a escrever e a contar.
Hoje os manuais são escolhidos de acordo com os critérios das escolas, e quiçá, dos lobbies das editoras junto das mesmas. Mudam-se os anos, mudam-se os manuais, e por vezes mudam-se estes durante os anos, quando as necessidades de aprender são ainda quase as mesmas ao longo dos anos.
E porque acontece isto ? Porque se desperdiça tanto dinheiro ? Por simples incompetência e inoperacionalidade do Ministério da tutela que é incapaz de definir os manuais obrigatórios para um número de anos alargado.

Ensino Secundário:

Sim, foi este o ensino que durante décadas alimentou a capacidade produtiva deste país, com as escolas industriais, comerciais e os liceus.
Sim, foi este o ensino que deu de comer a famílias e ganhou o respeito além fronteiras, quando se expunha e dava a conhecer a capacidade dos técnicos e operários portugueses.
Hoje a palavra "operário" causa urticária a muita gente, uns porque são políticos e usar tal palavra os parece aproximar duma qualquer ideologia marxista ou algo do género, outros porque a recusam enquanto nada fazem ou fazem algo que de nada serve.
Porque acabaram com os modelos de ensino que ensinavam a trabalhar e a produzir ?
Primeiro disseram que as crianças ainda não tinham capacidade de decidir sobre o seu futuro. Pois, na altura ainda não existia a disponibilidade de técnicos / psicólogos que os ajudassem a identificar aptidões e tendências.
Óptimo, então hoje temos alunos que chegam até à idade adulta, e continuam a ser incapazes de escolher um futuro, porque aquilo que vão descobrindo de que gostam, não tem saída no mercado e acabam por ir frustados e profissionalmente sem preparação, "pairar" nas empresas num emprego qualquer de ocasião que um amigo lhes arranjou.

Ensino Superior:

Englobo aqui, a abordagem do 12º ano, que anterirmente também foi o "Ano Propedéutico". Para que serve, na realidade, um ano escolar, onde se pretente, segundo o que já foi indiciado, reavaliar todo o ensino secundário, ou preparar os alunos para a realidade das universidades? No mínimo, diria que este ano serve apenas de atraso da vida escolar dos alunos, para não falar das condições degradantes com que o Ano Propedêutico foi constituído e após ele, o 12º Ano.
A somar a isto tudo, temos um ensino superior, em nada conectado com o ensino secundário, ou seja, são duas realidades distintas que não se complementam nem dialogam.
Lembro-me de algumas "cadeiras" de engenharia onde se pretendia em magros semestres leccionar o que supostamente se teria aprendido no antigo curso geral das escolas industriais. Lembro-me de professores ´da cadeira de "Electromagnetismo" do Instituto Superior Técnico de Lisboa, em atitudes arrogantes, regozijarem-se do elevadíssimo índice de reprovação nos exames, cujo conteúdo da disciplina em causa, para os alunos de Engª Mecânica, para além de ser usual levarem vários anos para conseguirem fazê-la, pouco mais servia do que inspiração para o desprezo que lhe votavam quando almejavam os míseros 10 valores.
Lembro-me de professores (assistentes sobretudo) em atitudes de histeria, como um que vi na cadeira de Mecânica de Fluidos, que ocupava o tempo das aulas em deduções matemáticas, e ignorando os fundamentos da cadeira que leccionava, isto para não falar na completa ignorância que tinha sobre bombas hidráulicas, onde misturava os conceitos, de forma plenamente anedótica.

É este o ensino que pretendemos ?
E quem avalia de forma credível e honesta a capacidades dos estabelecimentos de ensino e dos seus docentes ? E quem o sabe fazer ?
Qundo se separa o trigo do joio, em matéria de docentes, evitando misturar todos numa amálgama de malfeitores ?
E quem avalia efectiva e eficazmente a capacidade e a viabilidade dos alunos, face ao seu desempenho e perspectivas no ensino que frequentam ou pretendem frequentar ?
Quem gere a comunidade escolar, nomeadamente de forma a evitar que alunos fiquem a "estagnar" em estabelecimentos de ensino, só porque estão na idade obrigatória de frequência escolar, sem que contudo tenham o aproveitamento mínimo exigível ou o comportamento cívico exigível, sem que por vezes os professores possam fazer algo ?
Quem acompanha efectivamente os alunos, evitando, impedindo ou alertando para situações de índices escandalosos de reprovações, para professores que aparecem nas aulas aparentemente drogados, para alunos de histórico excepcional que de repente passam a ter notas baixas, para aulas que são leccionadas por nomes sonantes da sociedade e cujas aulas são imcompreensíveis, para alguns professores que se tornam "pequenos reis" nos seus decrépitos departamentos das universidades ? Quem ? O Ministério ? Não me parece, pois nem internamente demonstra discernimento para emitir exames correctos e adequados.

É nesta torrente da ignorância e mau ensino, que alunos passam a professores e a alguns metre-escola (esses que recordamos com saudade) e outros, talvez os que menos aprenderam até se tornam gente que se pretendia respeitável, com responsabilidades no ensino em Portugal.

Por mim, no ensino, salvo raras excepções, bastaria voltar a 1973 e implementar liberdade e condições de acesso ao mesmo. Voltaria a formar, operários, técnicos, mecânicos, electricistas, enfermeiros, médicos, engenheiros, etc.. Chamem-lhes o que quiserem, mas aos 18 anos (os que ainda não tinham entrado nas universidades), todos eles sabiam trabalhar e produzir alguma coisa.

3 comentários:

Maria Carvalho disse...

Exactamente. É isso mesmo. Concordo plenamente. Um beijo.

Ana Luar disse...

Como queres que um país liderado por asnos...
corrija o ensino em Portugal?
Se queres saber eu já deixei de tentar perceber as demências destes senhores.

Anónimo disse...

Ñ tenhas dúvida q o 'insucesso escolar' passa sobretudo pela extinção dos cursos técnicos [escolas técnicas].

Está provadíssimo q nem todos têm as mesmas aptências e há jovens q se sentiriam mt mais realizados e felizes nessas escolas, em lugar de serem, pelo contrário, 'obrigados' a tentar cumprir uma escolaridade obrigatória até ao 9º ano, com áreas disciplinares q nada lhes dizem.

Boa análise, 'apontando o dedo' na direcção certa.

saudações