quarta-feira, outubro 25, 2006

Faz hoje um ano

Faz hoje um ano que levei a minha mãe para “o” lar.
Faz hoje um ano que não comemoro nem dou vivas, nem convido os amigos para partilhar as alegrias que a felicidade nos permite colocar na mesa onde os convivas se alimentam.
Faz hoje um ano que aquela face doce que me embalou partiu comigo à descoberta de um espaço, onde esquecidos estão outros que como ela, apenas desejam continuar parte das vidas a quem deram a vida.
Faz hoje um ano que aquele espaço se estendeu a partir do meu, qual ramo que agarrado à mesma árvore, partilha o mesmo sol, a lua, o vento, a chuva e as gotas de orvalho escorrem das mesmas folhas onde bebo.

Faz hoje mais um ano, que nos cuidados as mãos e a alma não hesitaram, na doença e na fraqueza o corpo não se tolheu e na defesa a voz nunca se calou, qual muralha afrontando o mar mais revolto em açoites de tempestades em guarda ao porto de abrigo onde se resguardam os indefesos.

Faz hoje um ano, que mais um ano e anos mais, as vozes se calem, as bocas das hienas não mordam, as beatas não condenem rezando e de esquecido eu não padeça, que ante mil demónios nunca me fiz rogado, e que a mais ninguém ousara temer que não a mim mesmo.
Faz hoje um ano, que a chuva, o vento e o frio, têm sempre a mesma cor do sol num dia de verão, guardado no sorriso com que se alimenta um qualquer amor maternal.

Faz hoje um ano que levei a minha mãe para “o” lar, onde uma parte de mim ficou também e onde volto quase diariamente para me reencontrar.

4 comentários:

M.A. disse...

deixo este texto, que o acho tão profundo e belo, que desejo que o revigore e lhe dê aconchego:

Cito:

""(...) O vosso amigo é a resposta às vossas necessidades.
Ele é o campo que cultivais com amor e colheis com gratidão.
E é o vosso apoio e o vosso abrigo.
Pois ides até ele com fome e procurai-lo para terdes paz.
Quando o vosso amigo fala livremente,
vós não receais o "não",
nem retendes o " não".
E quando ele está calado
o vosso coração não deixa de ouvir o coração dele;
Pois na amizade,
todos os pensamentos,
todos os desejos,
todas as esperanças
nascem e são partilhadas sem palavras,
com alegria.
Quando vos separais de um amigo não fiqueis em dor,
pois aquilo que mais amais nele
tornar-se-à mais claro com a sua ausência,
tal como a montanha, para quem a escala,
é mais nítida vista da planície.

E não deixeis que haja outro propósito na amizade
que não o aprofundamento do espírito.

...deixai que o que de melhor há em vós seja para o vosso amigo.
Já que ele tem de conhecer o refluxo da vossa maré,
que conheça também o seu fluxo. (...)"

"Sobre a Amizade"
Kahlil Gibran - "O Profeta"

P.P.


***maat

Ana Luar disse...

Este texto deixa-me com um nó na garganta.
Só quem vive num mundo de afectos, poderá entender o que sente alguém como tu.

Beijo eterno, querido Rui... na esperança de que o tempo acalme a mágoa.

Maria Carvalho disse...

Qualquer texto que escrevas é maravilhoso e deixa-me sempre uma lágrima...Beijos para ti.

Leticia Gabian disse...

Nos passeios pelos blogs, sempre há aqueles onde a gente se detem mais e se permite a uma emoção maior. A leitura fica comprometida pelos olhos que facilmente se marejam. Te entendo bem, meu amigo. Sei bem do que fala. Essa é uma dor atemporal. Temos que aprender a seguir em frente, apesar dela.
Um abraço, do Brasil