Lusíadas de hoje
(Desencanto I)
As damas e os figurões assinalados
Que da anormal política Lusitana
Por votos quase sempre enganados,
Pousam santos, gente insana,
Em embustes e ganância esforçados
Mais do ousa a vontade humana,
E entre gentes crentes edificaram
Novos ricos, que tanto abastaram;
E também as cousas gloriosas
Daqueles que as posses foram dilatando
A Fé, o Ensino, e as artes viciosas
De todos nós andam devastando,
E alguns que por obras duvidosas
Se vão pela Morte doutros arrogando,
Cantando os vemos por toda parte,
Que a roubar os ajudam o engenho e arte.
Cessem do inglês e do americano
Os ataques aos povos que fizeram;
Cale-se do espanhol e do italiano
A fama das vitórias que não tiveram;
Que eu choro o peito luso insano,
No desprezo que aqueles mereceram.
Cesse tudo o que este povo não canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
E vós, gentes minhas, pois criado
O sustento de tal vil gente ardente,
Se sempre em engano foi celebrado
O que àqueles foi dado tristemente,
Dai agora um som alto e enraivado,
E bani de vez tal fétida gente,
Por que de vossas bocas ordene
Os que a vossa dor diária condene.
Tende uma fúria grande e sonorosa,
Quais diabos afastados por arruda,
Numa atitude viril e belicosa,
Que o peito acende e a razão o gesto muda;
Nem estádios ou armas torne famosa
Esta gente que a sorte pouco ajuda;
Que se espalhe em pedaços no universo,
Gente vil que não caiba em verso.
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da vida Qualidade;
Vós, ó novo temor da Sociedade lança,
Voto fatal da vossa sanidade,
Dada a este mundo, que todo o mande,
Gente séria e de alma grande.
2 comentários:
Meu Deus! O Rui "desabrochou" de vez!
E como eu me sinto orgulhosa e feliz por isso!
Uma nova estrela brilha no universo.
Bem haja a luz que dela advém. Como o mundo precisa dela...
parece camões isto. deve de ser copia
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