quarta-feira, novembro 30, 2005

Ao telefone com Deus

Os dedos calcorrearam o teclado, marcando um qualquer número desconhecido ditado pela ânsia só permitida quando a ligação se estabelece baseada em convicções ou falta delas quando apenas se ouve a própria voz do outro lado.
Éramos alguns, decerto muitos e talvez muitos mais, os que em línguas, dialectos, linguajares e intenções nos precipitávamos para ouvir quem atendesse, ora em chamamentos, ora em orações de gente apinhada em credos que ora unem irmãos, ora afastam infiéis.
Em anonimato de silêncio, encontrei a minha voz junta aos ouvidos atentos às respostas para as perguntas que ousara colocar:

- Porque sofrem as crianças, idosos e mendigos, às mãos dos que os deviam cuidar ?
- Porque matam, os assassinos, inocentados nas inércias das nações ?
- Porque acusam, os que são culpados, amnistiados nas cumplicidades dos políticos ?
- Porque guerreiam, os que os inocentes não satisfazem com as suas vidas e o seu sangue ?
- Porque roubam, os que já muito tendo, apenas partilham a má sorte ?
- Porque têm fome, os que servem a fartura ?
- Porque proclamam humildade, os que se fardam na opulência ?
- Porque rezam os infiéis ?

Terá respondido Deus, em palavras facilmente entendidas por quase todos à minha volta, cristãos, judeus, muçulmanos, hindús, budistas e outros crentes que em clamores de entendimento, remeteram ao silêncio o meu sentimento de não ter compreendido as respostas.

1 comentário:

Maria Carvalho disse...

Muitas perguntas sem resposta que se compreenda, é uma verdade!