sábado, dezembro 24, 2005

Carta ao Pai Natal

Querido Pai Natal, eu não sei se existes nem onde moras, por isso escrevo-te sem endereço, na esperança vã que venhas a ler a minha carta.
Dizem que andas muito ocupado, sei lá, talvez também andes em campanha eleitoral à presidência dos Pais Natal, pois andam por aqui outros, que embora se pareçam mais com as renas, também fazem promessas de melhores Natais no futuro, embora no passado, só tenham dados prendas aos que se têm portado mal.
Eu queria pedir-te muito pouco para mim, talvez um Natal com as pessoas de quem gosto à minha volta, pois as outras por vezes é mais fácil não as ver, bastando apagar a televisão.
Pai Natal, como dizem que é época de crise, e como talvez a sintas também na compra de presentes para todos, ou quase, pois há muita gente que merece e não os tem, eu quero fazer-te uma sugestão que talvez ajude a resolver o problema e assim todos ficariam contentes.
Proponho-te que comeces por cima, quer dizer, com os nossos governantes, por exemplo a reduzir o número de ministros, de secretários de estado, de sub-secretários de estado, etc. Assim, com menos ministros para receber, já o senhor Primeiro-ministro tem mais tempo para pensar bem no que anda a fazer, com menos secretários e sub-secretários, já os ministros têm mais tempo para ouvirem as pessoas que eles representam, para saberem o que devem fazer, pois às vezes vê-se mesmo que não sabem do que estão a falar, e com isto tudo era dinheiro que se poupava para verdadeiros presentes para todos.
Como a maior parte das pessoas nem anda de avião, também podes converter o dinheiro do novo aeroporto em hospitais bem equipados, esses sim, já seriam usados por todos e esse era mesmo um grande presente. Também podias desistir do TGV (quer dizer Tontaria a Grande Velocidade) que poucos vão usar, para dar dinheiro às instituições que cuidam dos meninos abandonados ou que são mal tratados ou ainda dos avós que não têm ninguém que cuide deles para que possam viver com dignidade. Eu sei que vais ter dificuldade em explicar a palavra "dignidade" às pessoas com quem terias de falar para fazer isto tudo, mas mesmo assim tem de ser.
Também podias ajudar os senhores que tratam das prisões e que se queixam muito das condições. Olha é fácil, pegavas nos presos todos e punhas-os a trabalhar nos campos, nas serras, a fazer estradas, escolas, hospitais, etc. e só à noite é que voltavam para as prisões, e olha que vinham tão cansados que até iam gostar do sítio onde dormem. Durante o dia, também podias pegar em muitos senhores que vemos quase todos os dias na televisão e mandavas-os para as prisões trabalhar para as melhorar. Assim todos faziam algo de útil e até podias usar aqueles que estão muito aborrecidos e com sono na Assembleia da República, por não terem nada de fazer.
Olha Pai Natal, até podias ajudar aqueles senhores que são acusados de pedofilia. É assim, se eles forem mesmo culpados, quer dizer que gostam mesmo de criancinhas, então ofereces um Pinóquio com um nariz bem grande a cada um deles e quando vieres a minha casa eu digo-te o que fazer com o Pinóquio àqueles senhores.
Pai Natal, no outro dia fiquei muito triste com a última viagem do nosso submarino que já tem 30 anos, e por causa disso encomendaram dois novos submarinos. Já viste que não aproveitaram a última viagem do submarino para o afundarem com muita gente que anda por aí, cheia de prendas que não mereceram ou as roubaram aos outros ? Pode ser que o venham a fazer com os dois submarinos novos, mas acho que ainda vai faltar muito tempo. Há quem ache que podiam usar o dinheiro para outras coisas mais úteis, mas depois, como faziam se nos atacassem ? Se calhar os submarinos até são importantes para alguns dos nossos políticos se esconderem de vergonha nas profundezas, não do mar, mas do inferno.
Tu, Pai Natal, que já estás habituado a voar no teu trenó, tens de ter cuidado, sobretudo no Verão, não vás chocar com os aviões e helicópteros que andamos a alugar para apagar os incêndios. Vê lá tu, que algumas pessoas até acham que nós também devíamos comprar aviões para apagar incêndios. Para quê, Pai Natal, se até existem alguns senhores simpáticos e sempre disponíveis que tratam de tudo, desde a colocar os incêndios até a alugar os aviões para os apagar.
Bom, meu querido Pai Natal, para que não aches esta minha carta muito comprida, eu vou resumir o que eu queria como prenda de Natal. Queria que pegasses em todos os filhos da mãe que andam a infernizar este mundo e nas suas obras e exércitos e os transformasses em comida, água, cuidados médicos e bem estar para todos os meninos, idosos e pessoas boas que existem, e já sabes, se precisares de ajuda, conta comigo, isto se tiveres lugar no teu trenó.

Teu amigo,
Rui

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