As últimas ceias
Para os cristãos, Jesus Cristo terá sido o Cordeiro de Deus que foi crucificado para salvação e libertação de todos do pecado, cuja morte terá ocorrido no dia da Páscoa, facto que Ele teria antevisto durante a sua última ceia com os seus discípulos.
Não conheço tradição religiosa com igual paralelo em cada um dos nossos dias, e esse facto faz-me recordar os quantos são diariamente imolados, ainda que sem qualquer propósito de salvação ou purificação.
As ceias repetem-se entre familiares, amigos ou colegas, onde os supostos “Judas” tomam agora os nomes de Bernardos, Jaimes ou Josés, substituindo os beijos da traição, pelas mentiras, falsas acusações ou difamações. Lembro-me particularmente da afirmação de um antigo colega depois de uma dessas ceias de colegas, quando me confessou que se para se “safar” tivesse de “entalar” um colega, não hesitaria em fazê-lo, algo que sem escrupulos, foi demonstrando ao longo do tempo.
Não nos faltam Manueis, Pereiras ou Paulos, que por inveja, despeito ou apenas antipatia, oscilando entre Sinédrios ou palácios, em papeis de Caifás ou de Pilatos, não hesitam favorecer quaisquer Barrabás à mercê dos seus intentos, nas empresas, organizações ou departamentos, com carreiras construídas à custa dos que impune e injustamente condenam.
Não nos faltam sequer os que martirizando os que no trabalho e na honestidade se refugiam para alimentar aqueles que troçando dos Simões e das Verónicas, usam iguais milícias romanas a mando dos que se banqueteiam em repastos dominicais, comendo avidamente os cordeiros já emagrecidos pela aridez da sociedade de que alimentam.
Lembro-me de facto, dos que têm fome, dos que não tendo nada, não se podem sequer sentar à mesa para receber o pão e o vinho que lhes é devido.
Lembro-me dos que, com avidez insaciada, se passeiam impunes nos Sinédrios e palácios onde os discípulos da bondade reclamam justiça, venha ela de Deus ou do Diabo.
Tenham, apesar de tudo, uma boa Páscoa, sobretudo os que de alma livre, fraternalmente enfilam nas hostes a par do Calvário, que os demais teimam em ignorar.
2 comentários:
de facto " as últimas ceias" celebram-se todos os dias, infelizmente.
Transformemos esses dias.Ou essas noites.
***maat
Sempre tive minhas duvidas, referente a taxar judas como traidor, pois se o proprio Jesus nos ensina, a perdoar quem nos ofende não uma ou duas veses, mais setenta veses sete. Por outro lado a profecia não se compriria sem a ajuda de Judas. Creio como verdadeiro este novo evangelio, e é do homem taxar e jugar seu irmão, somente aquele que conhece e ama realmente a Deus, e que pode fazer tal sacrificio. anulando-se na historia e sendo glorificado por Deus no seu reino.
Francisco Ferreira
franpinto2@hotmail.com
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