sábado, maio 13, 2006

Fátima, a fé e a religião

Se todos os caminhos vão dar a Roma, naquele recinto, todos os passos se encaminhavam para aquele local apertado, onde as pessoas convergiam quais pequenas crias recolhendo-se nas asas da mãe, concentrando os olhares serenos naquela imagem alva onde as angústias são depositadas em preces confessadas mais ou menos em voz baixa.

A fila de gentes, ora de joelhos, ora de rastos, segue em silêncio o caminho marcado no chão, onde as lágrimas tentam em vão quebrar a dureza das pedras salpicadas das marcas das feridas dos que fizeram das promessas o ponto extremo da sua devoção, seja em agradecimento, seja em sacrifício na busca da ajuda que na probabilidade encontre pouca sorte.

Os ramos de flores emprestam às velas sortidas na forma e altura, com que se cruzam em passos apressados, aromas fugidios que se juntam às pequenas chamas votivas, tentando estas prolongar no espaço e no tempo a recordação dos entes a quem foram dedicadas.

Passam sacerdotes, monges e freiras.
Passam cónegos e auxiliares.
Passa gente de olhar triste, enquanto outros em cantares.
Passam emigrantes, gente simples e gente abastada.
Passam crianças, idosos e outros que já não esperam nada.
Passam polícias, políticos e até ladrões.
Passam até alguns que rezando bem alto, se esquecem da condição de vilões.

Passa aquela mãe que desesperada, veste o filho doente e fraco de anjo, esperando conservá-lo mais tempo com o bálsamo das suas lágrimas, reclamando à imagem de Nossa Senhora a simpatia de quem também já perdeu um filho.

Passam ateus, agnósticos e de outras confissões.
Passa tanta gente, meu Deus.

Porque não ficam ? Porque não estendem no recinto uma longa mesa com pedras de catedrais, onde nos actos votivos e orações, todos se juntam numa primeira ceia, partilhando o pão e o vinho e até as lágrimas e as angústias ?

2 comentários:

M.A. disse...

Porquê?...



***maat

Maria Carvalho disse...

Ao ler-te, ficam-me sempre questões para as quais nunca, nunca encontrarei resposta. Adoro ler-te.