sábado, maio 27, 2006

Um povo adormecido, um país adiado

Nunca me moveu nenhum sentimento homofóbico e até confesso admirar alguns homossexuais que numa postura discreta e serena, enfrentam diariamente preconceitos, injustiça e todo um rol de inconsistências sociais, que já deveriam ter desaparecido.
Com efeito, sou dos que entendem por bem, a autorização de casamento entre dois indivíduos do mesmo sexo e não aceito a condenação dos homossexuais por parte da Igreja, pois esta deveria ter sempre uma atitude contra a exclusão social, em vez de a provocar.

Contudo, uma coisa é a orientação sexual de cada um e outra é procurar enfatizar uma postura, não diria "gay" por respeito aos que o são, mas "amaricada" no sentido negativo do mesmo.

Estou farto de ser constantemente bombardeado, sobretudo na TV com palermices mais ou menos amaricadas e/ou mais ou menos anormais, em programas, que supostamente poderiam ser de maior divertimento.
São os "Nunos Eirós", os "Níltons", os "Danieis Nascimentos", os "Serginhos" e os "Cláudios Ramos" que em trejeitos de gosto duvido reduzem à imbecilidade uma actividade, que deveria ser cultural, a de ver televisão.

De facto o nível (ou falta dele) geral dos programas que temos, é tão baixo que levanta questões sobre a sanidade mental de quem permite alguns dos programas nas cadeias de televisão.
São as horas infinitas de telenovelas, apenas entrecortadas por notícias do futebol ou de qualquer desgraça alheia, transformada num circo montado sobre o sofrimento dos outros, qual coliseu romano infestado de aplausos ante o sacrifício dos cristãos.
Claro que todo este bolo condenado a vómito, não ficaria decorado sem o nosso José Castelo Branco, não porque ele seja como é, pois que tal lhe confere o mais legítimo dos direitos, mas porque tal nos encharca constantemente os serões, ora em circos, paradas e quintas, ora em programas sem qualquer interesse ou graça, secundados por grotescos Alexandres Frotas.

Quando foi que qualquer de nós teve acesso a ver na televisão uma ópera ou opereta ? um programa de bailado ? um concerto de música clássica ? um teatro ? um bom programa cómico com artistas de verdade ?
Quando é os artistas para os programas são escolhidos pelo seu real valor e aptidão profissionais, em vez do tamanho do cú ou das mamas, da voluntariedade de se despirem ou supostamente se bamboliarem amaricadamente ?
Quando é que na televisão, um qualquer programa de qualidade deixa de ser visto como uma raridade digna de gravação par ser revista, aliviando os ecrãs privados da nojisse constante na televisão ?

Todos sabemos que esta barbárie, não é um fenómeno isolado dentro da nossa sociedade e nem aparece por acaso.
Todos sabemos que quanto mais embrutecido e ignorante é um povo, menos ele é capaz de pensar e de reagir.
Todos sabemos que quanto mais mobilizados os indivíduos para bandeirinhas, hinos e aplausos dirigidos a selecções milionárias de futebol, menos reagem aos aumentos descomunais de combustíveis ou de bens essenciais.
Todos sabemos que quanto mais absorvidos estivermos com as inaugurações, jogos e comícios, menos nos apercebemos que nos palcos das mesmas, se encontram os que estão envolvidos nos escândalos de "apitos dourados", de "reformas escandalosas", de "processos fraudulentos", de "jobs for the boys" ou de supostos pedófilos, corruptos e corruptores afrontando o poder judicial.

Quantas as bandeiras que enfeitaram carros, janelas e fachadas, a pedido do seleccionador nacional, numa mobilização geral em torno da selecção.
Raras as faixas negras ou gravatas da mesma cor, a sugestão migrada na net, em protesto contra a exorbitância e aberração de algumas reformas atribuídas a alguns políticos.

Não admira ser Portugal o 3º consumidor de alcoól, pois só assim se justifica a embriaguez com que lidamos com a realidade que nos cerca. Só assim se justifica o coma social e não se cumprir o hino que nos impele a ser um "nobre povo" e "levantar hoje de novo, o esplendor de Portugal" numa nova "marcha contra os canhões".

5 comentários:

Cristina disse...

obrigada pela visita, és sempre bem vindo:)

beijinhos, venho com mais tempo..

Maria Azenha disse...

Concordo em pleno com o exposto.
Estamos numa sociedade na qual impera o reino da quantidade, em vez do reino da qualidade!

É um post fortemente interventivo.

***maat

SDF disse...

Concordo com a parte de crítica sociale política a 99%. Apenas não subscrevo a crítica às atitudes ou comportamentos apelidados de "amaricados", pois reconheço o direito e respeito que homosexuais possam ter gestos e posturas sociais diferentes do considerado "socialmente correcto" na medida em que grande parte do critério aplicado ao que é socialmente correcto em termos de comportamento é ditado por mentes que se regem pela batuta da heterosexualidade e não são, portanto, isentas.

Quanto à programação da TV: Claro que concordo com tudo o que foi dito, acrescentaria apenas a excepção a alguns programas da RTP2 e alguns de alguns canais privados. Mas esta é uma guerra da qual já desisti, pelo que agora a minha postura é de revolta passiva: Simplesmente não vejo TV e pronto. Se estas vivem de taxas de audiência, eu pelo menos não conto para as estatisticas. Substitui-a pela literatura, pelas sessões de DVD e pela NET. Pelo menos aí tenho um leque de escolha mais abrangente e só "papo" o que me apetece e não o que me querem impor!

Maria Carvalho disse...

De acordo. Beijos.

Anónimo disse...

Totalmente de acordo, Rui.
Como diria Fernando Pessoa "...Falta cumprir-se Portugal".
´
É mesmo o que falta!
Porque não acordamos
Porque marginalizamos
Porque nos manifestamos pelos valores errados.
Não se é português por andarmos de cachecol da selecção portuguesa ou de abanarmos ao vento as bandeirinhas nacionais.
É-se português se produzirmos, por educarmos, por formarmos seres que um dia sejam úteis à sociedade.
É-se português quando se tem alma e garra para defender e praticar os reais valores humanos.