quinta-feira, maio 25, 2006

Fraternidade

É meio-dia e neste momento um amigo de amigos meus foi entre cravos e lágrimas para a sua última viagem.
Não entendo a emoção que sinto, pois eu não o conhecia e pouco ouvira até então, falar dele. Ouço os soluços quase em silêncio dos que o conheciam, na exaltação das qualidades e até talvez dos defeitos, mas sobretudo num dos mais nobres sentimentos que tentam fazer de nós, seres gregários, o da Fraternidade.

Sim, a Fraternidade, esse sentimento, essa atitude, esse princípio, que ao longo dos tempos foi acolhendo as gentes em "famílias", "organizações", "partidos" e "movimentos".
Eram os amigos que se juntavam na alegria e na desgraça, quais "famílias" no sentido lato, que garantiam o que de outra forma era dificilmente alcançável.
Eram trabalhadores que se juntavam e associavam, ganhando força negocial e facilitando o anonimato na luta laboral.
Eram gentes que no desespero diário de sobreviver dão corpo a partidos na ânsia de que profetas políticos lhes ajudem a matar a fome num qualquer 25 de Abril que quase nunca acontece.
Eram pessoas que se juntavam por causas aparentemente únicas, colocadas no vértice duma pirâmide imensa de necessidades de movimentos de ajuda.
Eram... são... e continuam a ser gentes, pessoas a quem a Fraternidade é por vezes a companhia de quem está só, o pão que lhes mata a fome, a mão que os ajuda a levantar, a emoção de chorar em conjunto, o suspirar pelas mesmas dores e o cantar em coro pelas mesmas alegrias.

É a Fraternidade que fez conhecido aquele amigo dos outros que hoje partiu, aquela mulher idosa que dedicou a vida a tratar os abandonados e doentes, aquele homem que deu instrução a quem aprendeu e tantos outros que estão sempre onde os esperam.

Amanhã será meio-dia e depois de amanhã outra vez, e continuará a fazer sentido que pessoas, gentes se juntem, partilhando as dores e os cantares, não porque sejam socialistas, comunistas democratas ou fascistas, não porque sejam portugueses, franceses ou de qualquer outra nacionalidade, não porque sejam brancos, pretos ou amarelos, não porque sejam deste ou daquela sindicato ou religião ... mas porque queiram ser gente, assumir a posição de pessoas, de indivíduos, de serem amigos do seu amigo, de se verem entre si como num espelho e serem capazes de trazer outro amigo também.

(texto dedicado aos que na Fraternidade, na Amizade, na Solidariedade, na Igualdade e na Liberdade encontram a sua postura natural de vida)

3 comentários:

Poemas de amor e dor disse...

Não conhecia o pessoalmente Fernando . Se calhar até o conhecia, morávamos perto quando éramos jovens e estudámos os dois na Patrício Prazeres. Falámos disso tanto. Correspondia-me com o Fernando por e-mail e partiu dele o convite para participar no blog “Alfama é linda” http://alfamalinda.blogspot.com/ .Ainda há pouco quando decidi retomar o meu blog visitei o Alfama é linda e reparei que não estava actualizado desde Janeiro. Mas o Fernando deixou lá uma última mensagem em jeito de despida e eu não entendia a razão para ele ter colocado ali esta mensagem. Agora entendo-te camarada! A mãe terra que sempre lutaste por preservar chamou-te e o teu texto é um grito e um legado que nos deixaste.
Saudades
Rogério Martins Simões

Maria Carvalho disse...

Rui!! Sentidamente li estas tuas palavras. É por tudo isto que eu gosto de ti. Sinceramente. E te agradeço a sms que enviaste quando eu estava com a Sandra e ela ma leu. Obrigada, Rui. Muitos, muitos beijos para ti.

Maria Carvalho disse...

E tu a fazeres-me rir com o teu comentário!! E reparaste que já tenho a minha 'linda' fotografia??!! Eh eh!Riopor fora, choro por dentro. Mas vou ter outra música que escolhi, não vou é dizer-te qual é, para ser surpresa!! Ouvi-a esta manhã e disse :'é esta!!'. A que lá está 'final countdown' foi escolhida e colocada pelo Fernando, como sempre fazia, na véspera. Beijos, meu Amigo. Obrigada pela tua Amizade.