sábado, agosto 12, 2006

O roubo aos deuses

O tempo passava lento e a temperatura do ar de Verão misturava-se com o nervosismo, dando forma a um sentimento que só o desejo compreendia. Os passos repetiam-se ao ritmo da ansiedade, numa caminhada que a espera sabia de cor, tudo para que o nome soasse e rompesse aquele olhar constante para o relógio. Tudo era esperado correr bem, mas a imprevisibilidade da vida obrigava à sensatez de recear a hora seguinte, embora a alma chamasse por cada minuto que passava.

13h... 13h26... 14h... a voz da enfermeira fez-se sentir, qual soar de trobetas, ante a solenidade do mais feliz dos acontecimentos. Tinha chegado o momento porque ansiara, minutos, horas, dias e anos. Tinha-se aberto a porta mais alta do mais venerado dos palácios e as guardas davam alas à minha correria, qual caminhada onde os passos nervosos galgavam de leve, portas e escadas rumo ao salão sagrado onde se guarda o mais precioso dos tesouros.

Eis que a derradeira porta que só a persistência e a coragem souberam abrir, se fazia esperar onde um sorriso enfeitava outra cara agora maternal, qual espelho da felicidade que era também a minha.
Finalmente tivera acesso, onde no Olimpo os deuses guardam os segredos primordiais, agora ao alcance do meu olhar que se esvaía num encantamento que concentrava naquele pequeno ser toda a energia do bater do coração, como se estivesse a ser embalado de mansinho no aconchego desenhado pela minha alma.

Naquele momento, a palavra "Pai" traçava o contorno da importância de tudo o que fizesse de ora em diante, numa adoração que os olhos convertiam em gotas de orvalho que escorriam numa face que sorrindo, se juntara à incapacidade momentânea de falar, como se nenhuma das palavras conhecidas tivesse a virtude que o momento exigia.

Sentia-me como se ousasse tirar aos deuses o que de mais precioso tinham estes em mil cuidados concebido, qual Prometeu que tirara o segredo do fogo para o dar aos homens, sentimento que se repete em cada momento que olho aqueles pequenos olhos expressivos que adornam aquela carita pequena e irrequieta que hoje faz 3 anos num encanto que se renova a cada instante, como se cada dia fosse o primeiro.

Parabéns meu filho, e amar-te é o mais simples e devoto dos gestos nesta adoração constante.

Nota:
O Rui Pedro resultou de um processo de concepção assistida (Fertilização In Vitro - ICSI), que resultou após várias tentativas e situações algo complicadas, graças à persistência e tenacidade física e psicológica, em particular da mãe, com a assistência constante durante todo o processo, de uma equipa competente de profissionais de saúde.
Nasceu no dia 12 de Agosto de 2003 às 13h26, com 49cm e 3,220Kg por parto assistido (cesariana) ao som da música "Feel" de Robbie Williams que se tornou assim, um símbolo familiar.
Seja este um gesto de estímulo e de encorajamento aos que, aquele meio possa ajudar ao ascender desejado da condição de pais.

Outro post relacionado com este:
O nascimento de um príncipe

7 comentários:

Ana Luar disse...

O nascimento de um filho é sempre um momento de grande alegria. Eu sou testemunha do amor incondicional que tens pelo Rui Pedro... Ele tem sorte em ter um pai presente e que o ama acima de tudo. Mas outra coisa não seria de esperar de uma pessoa humana e terna como tu meu querido.
Tivemos os dois a sorte de ter filhos perfeitos e lindos...
E o engraçado é que tb a minha filha Beatriz nasceu a 12 de Agosto... EStamos sempre em real sintonia... já reparaste?
Parabéns a ti e ao Rui Pedro....

Maria Carvalho disse...

Belíssimas palavras, Rui! Por um triz nascia no teu dia de anos! Tenho imenso respeito e carinho por quem passa pelo que vocês passaram para que o Rui Pedro nascesse!! Montes de beijos para todos vós e em especial (atrasados...) ao teu filho.

Dora disse...

Obrigado pela visita!
Volta sempre!
Beijinhos!

Maria Azenha disse...

Ao Rui Pedro, um raio de sol, na simbólica (neste caso, da Trindade)
do bolo de aniversário.
Aos que lhe deram Origem, a melhor e mais qualificada Vida .

P.P.


***maat

Woman disse...

Belíssimo momento meu amigo. Aproveita cada minuto que esse filhote te dá e dará. Adorei viver o teu momento. Sejam felizes.
Haaa, e com três aninhos deve ter uns pezinhos de morrer. Amo os pés dos bebés...

Um beijo

Luna disse...

Dos textos mais bonitos que li até hoje sobre paternidade...provavelmente porque tb a minha filha mais nova é fruto das consultas de esterilidade..e por isso costumo dizer nossa princesa e filha de 3 pais, nós e o Dr.PC...durante os 5 anos q la andei, sempre achei q nao tinha a capacidade daquelas mulheres q aguentam anos a fio...um sentimento que so eu e outros como eu o entendem.
Antes dela, tive varios abortos espontâneos...que não passavam dos 3 meses de gestação...ja estavm quase todos formados...
Depois dela tivemos outra...tb com ajuda...
Só por curiosidade...a mais velha, a tão desejada...é a minha princesa que nasceu com uma deficiencia devido a negligencia médica no parto....mas é linda e se assim não fosse...nao a amava mais do que amo!
beijos aos 3...ou 4...ou quantos mais vierem!

Avalon disse...

Desde já os meus Parabéns mais sinceros, e votos de que corra tudo bem com ele e convosco, obviamente!!!

Quanto à sensação...é das mais felizes que um ser humano pode sentir!! Não há palavras que definam...
É o momento mais feliz da nossa vida!!!!

Mas...eles crescem num instante, e aproveitem intensamente os 3 anos dele...pois daqui a nada já passaram!!!

Deixo-te um beijo de Avalon, e outro para ele!!!