Neste país, a saúde pública é um termo que enche a boca de governantes, políticos, médicos, técnicos e outros assalariados que a bolsa de todos paga, para que aquela seja, à semelhança das demais necessidades da sociedade, tratadas com o desdém que a incúria pública, na prática professa e assume traiçoeiramente no hábito diário.
Hoje as compras ocasionais no supermercado Feira Nova da Póvoa de Santo Adrião incluiram entre outros bem, um frango.
Até aqui, nada de especial, até ao momento que a abertura da embalagem do galinácio, que surpreendentemente anunciava o fim da validade para amanhã, anunciou irreverentemente o cheiro nauseabundo do perecimento após a morte, onde a conservação não terá passado de uma tentativa, visivelmente falhada.
A probabilidade do estado de decomposição se ter estendido a muitos outros exemplares, era tão elevado, quão expectável que dezenas ou centenas de pessoas iriam comprovar através do choque olfactivo a que seriam sujeitas, como eu.
Assim, o risco associado ao eventual consumo de putrefactos manjares a que nem as mais resistentes faunas e floras intestinais iriam resistir, levou-me ao ritual de alerta que em sociedades actuais, deveria constituir-se como uma prioridade previsível.
A tentativa de contacto para a Inspecção Geral das Actividades Económicas (IGAE), revelou-se inviável, porquanto o número de telefone na agenda anunciava-se como não atribuído. Valeu-me a consulta na Internet para saber que aquele organismo foi extinto, tendo sido integrado na Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE).
Mais uma vez, a tentativa de contacto, agora para a ASAE, se revelou infrutífero, porquanto o segurança que atendeu o telefone cerca das 20h00 anunciou que os serviços estavam encerrados e que poderia contactá-los na próxima 2ª feira, altura em que muito provavelmente, o stock de aves, em estado que nem a mais degradada múmia egípcia invejaria, já estaria pulverizado num enorme número de clientes do supermercado.
O passo seguinte neste calvário de luta pela saúde pública, levou-me a ligar para a PSP de Odivelas, a qual, compreendendo a situação, se anunciou como aparentemente impedida de actuar sem ordens da ASAE para intervir, excepto em caso de evidência de o prazo de validade ter sido ultrapassado.
Restou-me a alternativa de fazer o próprio supermercado actuar como juíz em causa própria, ou seja, alertar o responsável do mesmo sobre a ocorrência, para que sob seu discernimento, ou eventual falta dele, possa intervir impunemente, caso decida retirar o produto em causa da prateleira. Foi o que fiz, mas não sei se foi o que ele fez.
É assim que em casos como estes, nos vimos impossibilitados de fazer intervir, um organismo que devia estar permanentemente preparado para o fazer, sobretudo sabendo-se que o que está em causa é a saúde pública.
No meu entendimento, associado ao estado de impróprio para consumo do frango, associa-se a putrefacção da (in)operacionalidade de organismos estatais que deviam observar aspectos críticos como a saúde pública.
É caso para dizer que "putrefacção assim, não é só no Feira Nova".