sábado, setembro 10, 2005

O preço justo

Existem histórias que pela sua mensagem não deixam de nos emocionar, mesmo quando as lemos várias vezes. Esta encontrei-a por acaso num folheto espalhado sobre as cadeiras na sala de espera de um hospital.

Dedico-a aqueles que perante as dificuldades, não hesitam.

A carita colava-se ao vidro da montra, achatando o pequeno nariz. Os olhos reluziam enquanto percorriam os artigos expostos, numa escolha difícil, onde a beleza era o único critério de escolha para quem ainda não conhece o valor do dinheiro. As pequenas mãos de dedos finos e bem proporcionados, encostadas ao vidro, mais pareciam separar uma fronteira invizível mas relutante que a separava do desejo e a remetia à dura realidade.
Finalmente algo quebrou a escala da escolha adequando-se perfeitamente ao fim em vista. A beleza que um colar de turquesas finamente trabalhado irradiava, quase que apelava à escolha, sobrepondo-se na atenção daquela menina.
Decidida, uma figura pequena, entra na loja, aproximando-se do balcão que as pequenas mãos dificilmente alcançavam. As suas vestes eram modestas, anunciando no entanto o trato cuidado.
- Que queres pequenina ? - pergunda a face severa do ourives em trejeito descrente.
- Quanto custa aquele colar ? - questiona aquela pequena figura de ar decidido.
- Aquele colar minha filha, é muito caro. Porque perguntas ?
- Sabe, a nossa mãe morreu há um ano e é a minha irmã mais velha quem trata de nós. Ela é muito boa para todos nós e hoje faz anos. Aquele colar é da cor dos olhos dela e eu quero oferecer-lho porque acho que lhe ia ficar muito bem. Eu tenho um mealheiro e trouxe todas as minhas moedas - exclamou a garota, mantendo a decisão e colocando um pequeno molho de moedas sobre a mesa que guardava numa das mãos.
- Acha que chega para comprá-lo ?
No dia seguinte uma jovem, cujo cabelo emoldurava uma face morena onde dois olhos azuis acumulavam uma beleza invulgar, já garantida por aquela cara bonita.
- Diga-me por favor, este colar foi levado daqui ? - perguntou a jovem colocando um colar de turquesas sobre o balcão, ainda embalado pela embalagem tratada com cuidado.
- Sim minha jovem. Esse colar foi vendido ontem - retorquiu o ourives cujo ar severo da cara foi amaciado por um sorriso calmo.
- Mas como foi possível a minha irmã comprá-lo, se nós somos pobres e não temos possibilidades de o pagar ? Decerto houve algum engano. Peço-lhe que o aceite de volta.
- Queira desculpar, mas os negócios com os nossos clientes são da máxima confidencialidade e posso assegurar-lhe que tudo se passou com a maior honestidade - respondeu o ourives.
- Mas como, se a minha irmã apenas tinha algumas moedas ?
- Minha jovem, leve o seu colar. De facto esse colar é muito caro mas a sua irmã pagou o preço um preço justo por ele, pois deu tudo o que tinha.

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