Nem só de pão vive o Homem
Um dia, era eu pequeno, um homem bateu à porta de minha casa durante a hora do almoço, mendigando um pouco de pão.
Havendo comida sobre a mesa, o meu pai mandou-o entrar e comer, não apenas pão mas que partilhasse da restante comida que lhe serviria num prato como aos demais.
Ele recusou o prato e o copo de vinho que lhe estenderam os meus pais, justificando-se com a tuberculose de que padecia e do receio de contaminar quem lhe dava de comer. Era a doença que o impedia de trabalhar e de ganhar o sustento.
O meu pai disse-lhe que comesse sem receio à mesa de quem já tivera a mesma doença e que saberia como proceder, pela experiência do passado.
Resignado e mais confiante o mendigo saciou a fome e a sede, sobre aqueles gestos dignos de inspirar a mais solidária das eucaristias e onde qualquer mendigo era elevado à condição de apóstulo numa religião anónima de solidariedade. Mistério, quem sabe, da fé ou da fraternidade.
Hoje já não tenho o meu pai, mas guardo esta recordação dele, daquela situação e do pão e os mendigos continuam a bater à porta de cada um de nós.
Este post vem na sequência da leitura do post "recordação viva de mendigos" no blog "Arde o Azul", cuja consulta recomendo.
9 comentários:
Lendo as suas palavras, lembro-me também de uma passagem da minha infância. Existia uma mendiga de nome Maria, que habitalmente passava em casa dos meus pais. Penso eu, que por hábito passava sempre no mesmo dia da semana. Quem lhe abriu a porta a primeira vez e a recebeu fui eu, mandei-a entrar, ela não quis, recordo vagamente que lhe perguntei porquê e ela respondeu que estava suja iria sujar a casa, não percebi bem na altura e pedi então à minha mãe que me desse os géneres para Maria, entreguei-os e foi-se embora.
Na semana seguinte de novo apareceu recebi-a e mais uma vez lhe disse para entrar, respondeu-me da mesma maneira, então peguei-lhe na mão puxei-a para dentro de casa e sentou-se à mesa. A partir desse dia todos os mesmos dias da semana e durante tempos... esse receber fez parte da minha minha rotina, engrandeceu-me fazia-me sentir muito bem. Sou amiga da Maria mendiga e sou mendiga como a Maria.
(um pouco "apressadamente" deixo aqui este meu testemunho)
Beijinhos.
...a mais solidária das eucaristias e onde qualquer mendigo era elevado à condição de apóstolo numa religião anónima de solidariedade ..."(tocaram-me as forças que estão por detrás destas palavras)
Sim,é sempre o mendigo de amor, que chama a partir de dentro.Ele está no fundo do coração e espera a libertação, para um novo nascimento.
É uma ceia interorizada , na câmara alta da alma, numa eucaristia perpétua...
e isto é despertar para a recordação do Outro...no seu/nosso rosto de mendigos.
m.a.
Li primeiro o comentário, só depois passei por aqui. Tocante. Foi o que escrevi. Beijinhos para ti.
ola viva...nem sei muito bem como encontrei este poiso, mas ao ler este post senti uma emoção inexplicavel, ainda por cima com uma musica que adoro a tocar por trás. Partilho contigo a ausência do Pai, mas também recordo muito episódios que me marcaram com ele e que fizeram de mim o que hoje sou.
Um grande abraço
Corajoso... além de humano e solidário... o seu pai!!
Forte base seu pai criou,boas lembranças ele deixou,exemplos dignos você pode seguir..
Gostei do seu espaço,voltarei se me permitir.
linda semana
beijosssssssssss
Forte base seu pai criou,boas lembranças ele deixou,exemplos dignos você pode seguir..
Gostei do seu espaço,voltarei se me permitir.
linda semana
beijosssssssssss
Guardar tais recordações de um pai, matrizes das nossas vidas, faz dele alguém imperecível. Tal o adejar da mariposa que origina um tufão nos antípodas, como imaginar aonde poderá levar tal ensinamento...
m abraço.
Então vou ter o imenso gosto de te rever a 4 de Março? Que bom. Beijinhos. Bom domingo.
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