terça-feira, junho 13, 2006
terça-feira, junho 06, 2006
O Aprendiz
Capítulo I – A travessia (este cápítulo já foi publicado em Abril/2006)
Amanhece com o sol a espreitar timidamente pelas janelas que as nuvens combinaram, aspergindo o lugar com um calor calmo, que o crepúsculo teima cada dia em tomar de posse no cacimbo da noite.
O corpo eleva-se lentamente num abandono do lugar onde antes repousara, emprestando a sua forma no leito de areia, num testemunho onde a realidade e o sonho se olharam de frente durante o sono.
Avança solenemente ao compasso do silêncio até à beira da água, pelo caminho que os pés nús foram traçando no espaço que o dia prometeu até à chegada da Lua.
Recolhe-se à pequena barca de madeira de acácia, tomando nas mãos as ferramentas com que há-de dar forma à pedra que o aguarda na outra margem, onde nasce o Sol, anunciado pelo aroma das rosas que o vento transporta no tempo.
Guarda as últimas recordações enquanto se liberta das amarras, para tomar nas mãos o leme que a bondade governa enquanto a vela se ergue revolta, enfunada pela alma.
Por fim, a embarcação avança, na travessia que o prendeu, enquanto as ondas lhe anunciam a viagem até ao porto de abrigo, onde mestres e aprendizes trocam artes e conselhos, num renascimento constante.
Capítulo II – O aprendiz
A viagem fizera-se mansa quando o peito se ofereceu ao vento enquanto as águas que o acompanharam se fizeram submissas à roda de proa, que decidida fizera da rota traçada a oriente o seu caminho.
Deixara para trás o dia profano e um novo já acorrera sem espera do outro lado, à chegada do homem igualmente renascido.
A subida da margem fizera-lhe mais próximos os sons e os homens, onde os malhetes e cinzéis traçavam na pedra a vontade que os esquadros e os compassos mediam no conhecimento de um novo templo.
Assim, entre iguais, igual se fizera na alma e nas vestes, fazendo seu também, o trabalho que os demais levavam por diante, quais cruzes transportadas por um mosaico de apóstolos, quais irmãos de uma mesma família formada por homens livres e iguais.
Tornara-se então neófito, na sabedoria, na força e na beleza, onde entre companheiros, o lugar de aprendiz lhe concedia o direito e a vontade de aprender mais, que o saber de mestres lhe haveria um dia de desmentir, por mais ainda haver por aprender.
Publicada por Rui Gonçalves à(s) terça-feira, junho 06, 2006 11 comentários
quinta-feira, junho 01, 2006
1 de Junho - Dia Mundial da Criança
Hoje é o Dia Mundial da Criança
Hoje esta criança está a morrer à fome porque onde ela está não lhe chega a comida.
Hoje fui almoçar e havia comida, mas ela não estava lá.
Hoje milhares de governantes e políticos empanturraram-se como eu, mas ela não foi lembrada lá.
Hoje o Santuário de Fátima vai continuar a ser ampliado com os milhões de euros de ofertas dos devotos, mas ela nunca irá lá.
Hoje milhares de operários empanturram-se como eu nas cantinas das fábricas das armas que matam o país desta criança, mas ela ainda está lá.
Hoje, milhões de cristãos, muçulmanos, hindús, judeus, budistas e outros crentes, vão rezar por esta criança, mas ela não os verá.
Hoje milhões como eu, falarão desta criança, mas ela não nos ouvirá.
Hoje esta criança está a morrer à fome porque onde ela está não lhe chega a comida.
Hoje o meu filho chorou porque não queria comer o que lhe deram.
E eu choro pelos dois, porque qualquer um dos dois pode ser o meu filho.
Hoje é o Dia Mundial da Criança. Será mesmo ?!
Publicada por Rui Gonçalves à(s) quinta-feira, junho 01, 2006 6 comentários