terça-feira, junho 06, 2006

O Aprendiz

Capítulo I – A travessia (este cápítulo já foi publicado em Abril/2006)

Amanhece com o sol a espreitar timidamente pelas janelas que as nuvens combinaram, aspergindo o lugar com um calor calmo, que o crepúsculo teima cada dia em tomar de posse no cacimbo da noite.
O corpo eleva-se lentamente num abandono do lugar onde antes repousara, emprestando a sua forma no leito de areia, num testemunho onde a realidade e o sonho se olharam de frente durante o sono.
Avança solenemente ao compasso do silêncio até à beira da água, pelo caminho que os pés nús foram traçando no espaço que o dia prometeu até à chegada da Lua.
Recolhe-se à pequena barca de madeira de acácia, tomando nas mãos as ferramentas com que há-de dar forma à pedra que o aguarda na outra margem, onde nasce o Sol, anunciado pelo aroma das rosas que o vento transporta no tempo.
Guarda as últimas recordações enquanto se liberta das amarras, para tomar nas mãos o leme que a bondade governa enquanto a vela se ergue revolta, enfunada pela alma.
Por fim, a embarcação avança, na travessia que o prendeu, enquanto as ondas lhe anunciam a viagem até ao porto de abrigo, onde mestres e aprendizes trocam artes e conselhos, num renascimento constante.

Capítulo II – O aprendiz

A viagem fizera-se mansa quando o peito se ofereceu ao vento enquanto as águas que o acompanharam se fizeram submissas à roda de proa, que decidida fizera da rota traçada a oriente o seu caminho.

Deixara para trás o dia profano e um novo já acorrera sem espera do outro lado, à chegada do homem igualmente renascido.

A subida da margem fizera-lhe mais próximos os sons e os homens, onde os malhetes e cinzéis traçavam na pedra a vontade que os esquadros e os compassos mediam no conhecimento de um novo templo.
Assim, entre iguais, igual se fizera na alma e nas vestes, fazendo seu também, o trabalho que os demais levavam por diante, quais cruzes transportadas por um mosaico de apóstolos, quais irmãos de uma mesma família formada por homens livres e iguais.

Tornara-se então neófito, na sabedoria, na força e na beleza, onde entre companheiros, o lugar de aprendiz lhe concedia o direito e a vontade de aprender mais, que o saber de mestres lhe haveria um dia de desmentir, por mais ainda haver por aprender.

11 comentários:

Maria Azenha disse...

A verdadeira Arte Real.
Gostei de ler este capítulo intitulado " O Aprendiz".



P.P.
***maat

Anónimo disse...

Verdadeiramente, seremos sempre apredizes nesta viagem, não é meu caro? Um TAF.

Maria Carvalho disse...

Será mestre. Gosto muito de tudo o que escreves. Não é novidade. Beijinhos.

Ana Luar disse...

A minha avó já dizia que mesmo na morte continuariamos a aprender... assim como eternos aprendizes só nos resta ter mente aberta e um coração ágil para colocar em prática a aprendizagem salutar.

Ana Luar disse...

CONTINUAS ESTÁTICO... não à inspiração????? Eu bem digo que esse Faraó anda meio desactualizado... faz a barbaaaaaaaa please. rsrsrsrs
Não escreves Rui?

Memória transparente disse...

Eternamente aprendizes.
Beijinhos.

Helder Ribau disse...

vim visitar-te... desculpa a ausencia...

Aprendiz de Viajante disse...

Sendo eu uma aprendiz de viajante... gostei muito! Continua...

Um bjinho e obrigada pela tua visita.

Anónimo disse...

Sabedoria, força e beleza encontramos aqui. E uma grande fraternidade. Um TAF.

Maria Azenha disse...

...a música desapareceu ...

P.P.
***maat

Anónimo disse...

Tenho saudades de te ler...Beijinhos.