segunda-feira, novembro 13, 2006

Hoje ...

Hoje é mais um daqueles dias em que a falibilidade do calendário seria bem vinda e acolhida como se fosse, não um defeito, mas uma qualidade humana, que nos permitiria ignorar alguns dos dias, mesmo quando inevitáveis.

Hoje, o cortejo fúnebre tomou o lugar do começo do dia, remetendo o acordar para um passado distante e acrescido do pesar, mostrando que passo a passo, fazem-se mil caminhos que se encontram num mesmo lugar, onde todas as faces e imagens se pintam de uma mesma cor, intercalando-se entre o branco dos actores e o negro dos espectadores.

Hoje o telefone não toca, e o desejo de falar com alguém sobrepõe-se à companhia dos acompanhantes, como uma sede que a torneira à saída do recindo ignora, incapaz de a satisfazer, juntando-e à impotência que o silêncio nos impõe em momentos de solidão.

Hoje, na ausência dos amigos, os demais tornam-se quase desejados, no vil desejo de ouvir alguém, enquanto rostos desconhecidos passam mudos no caminho de regresso à realidade. Os dedos hesitam nas teclas do telemóvel os nomes que o espaço e o tempo recusam e o instinto toma conta da razão e dos actos, remetendo ao recolher dos sentidos.

Hoje é mais um daqueles dias em que a falibilidade do calendário seria bem vinda, como em todos aqueles em que nos sentimos sós numa viagem que no momento se quer rápida, em que fechamos os olhos e adormecemos, como o único gesto que nos resta.

Com os votos de uma Paz Profunda ao Sr. Manuel Bento, pai do meu compadre e amigo Alexandre Bento.

2 comentários:

Ana Luar disse...

Que a paz acompanhe o senhor Manuel!
E que a paz se faça presente em ti... pk nunca julgues que caminharás só... pk o meu ombro será teu na hora de chorar.
A minha mão será tua no momento de te amparar...
E mesmo na ausência, o meu carinho será eterno para os amigos que guardo dentro de mim... E tu sabes que és uma dessas pessoas.

Beijo eterno... meu querido, amigo Rui.

Maria Carvalho disse...

Paz profunda. Um belo texto sentido, Rui! Beijos.