quinta-feira, agosto 31, 2006

Dia mundial dos blogues

Pois é, para quem ainda não saiba, hoje comemora-se o dia mundial dos blogues. Supostamente tratando-se de uma iniciativa do bloguista israelita Nir Ofir, em 2005, esta comemoração tem apenas um ano de vida.

Na verdade não sei para que serve, nem se faz sentido haver um dia como este, que afinal poucos conhecem e a maioria continuará a ignorar, como se fosse a comemoração de algo a que alheios à importância, se tornasse comum o seu consumo, cada vez mais, constante entre nós.

Confesso que até ao momento em que, por cortesia, acedi ao blog de uma amiga, nunca me tinha sentido atraído por algo do género, como se tratasse de mais uma "mania" como tantas outras que habitualmente remeto ao desinteresse sazonal.

Confesso que em poucos minutos, e na maior surpresa me vi contaminado no poder de expressão que um simples blog pode assumir, a ponto de em poucos minutos ter construído o meu próprio blog, ao qual, como sempre faço com tudo, dediquei o meu melhor empenho, fiel aos sentimentos que me levam a contactar com os outros.

Confesso que, salvo indicação ou evidência em contrário, todos os conteúdos se referem a situações reais, ainda que frequentemente sejam sujeitas a tratamento mais ou menos literário, seja para provocar um sorriso no leitor na situação mais alegre ou caricata, seja para tentar conter qualquer lágrima teimosa perante uma situação mais dramática.

Confesso que em tudo o que escrevi e escrevo, tento imprimir os princípios que mais defendo, nomeadamente os de Liberdade, de Igualdade de direitos e de oportunidades e de Fraternidade, baseados na Justiça e na Verdade.

Confesso que encontrei neste espaço, tão pequeno e ao mesmo tempo tão vasto, as mais diversas pessoas e convicções, que diferentes se têm tornado num mosaico vivo e colorido de cidadania e de ideias por onde, entre outros, caminho qual criança fascinada por tudo o que a rodeia.

Confesso que alguns dos blogues, pelo seu conteúdo e encanto, fazem parte do gesto diário de leitura, como se fossem pequenos caramelos com que adoço o espaço de leitura, qual abelha que colhe num jardim, pequenos pedaços de néctar nas flores mais apetecíveis, plantadas e cuidadas pelas pessoas que mais admiro e que pouco a pouco se têm tornado parte de mim.

Confesso que cada um dos que a este espaço vêm, levam consigo um pouco de mim, e cada comentário que aqui registam, deixam um pouco do seu aroma com que me delicio num gesto genuíno de agradecimento.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Débito ou défice de inteligência

Acabei de receber uma carta enviada pelo Centro Hospitalar das Caldas da Rainha com uma Nota de Débito, a reclamar pagamento de taxa moderadora correspondente ao episódio de urgência, efectuado no hospital daquela localidade.

Até aqui tudo bem, o "sistema" funcionou aparentemente bem, se não fora:

Aquando do dito episódio, e no final do mesmo, dirigi-me ao balcão para, não só carimbar receitas como para validar de que não havia nada pendente do processo, ao que me disseram que não, e consequentemente vim-me embora, tranquilo embora frustado com 3 horas de espera na companhia dos poucos utentes que estavam presentes (aparentemente apenas 1 ou 2 médicos estavam a atender num ritmo, no mínimo, suspeito).

A referida Nota de Débito, acresce no ridículo, da solicitação que o pagamento seja efectuado no local (que não é o meu local normal de residência) no prazo de quinze dias (já supõem a minha disponibilidade logística para o efeito) e nos dias úteis entre as 9h e as 12h30 e 14h e 16h, ou em alternativa, por meio de cheque ou vale de correio.

Pelos vistos, "eles" até já têm tudo previsto. Só que o montante a pagar é de 1,55€, ou seja, repetindo o extenso da missiva (talvez até eles tenham reconhecido o ridículo da situação), "um euro e cinquenta e cinco cêntimos".
Isto é, alguém cuja função é a de assinar aquelas missivas, num gatafunho que de nada serve e apenas denuncia talvez a vergonha, pelo menos de assinar esta, gastou e pretende que eu gaste também, uma quantia bem superior àquela que, não só, o hospital não soube cobrar, ou que subsequentemente vem reclamar, incorrendo em custos adicionais estupidamente superiores.

Fiquei sem saber se no Ministério da Saúde, a missão de assinar / gatafunhar Notas de Débito faz parte de alguma carreira profissional em especial, ou se a função pretende que seja "raciocinar" e agir em conformidade com a análise criteriosa do documento que se está a assinar.

E ainda dissem que os burros estão em vias de extinção ...

segunda-feira, agosto 21, 2006

Se todas as pessoas lembrassem do que pensavam quando tinham meros 12 anos, tinham a resposta para tudo

Entre recantos e deambulações entre os blogs da minha preferência e que por isso, passaram a fazer parte do meu hábito de visita quase diária, através de escala de leitura no blog "As três Pirâmides" da Luna acabei por aportar ao blog da Marta Santos, supostamente uma jovem de 12 anos, que recomendo como remédio para a nossa falta crónica de bom senso de adultos, onde entre os vários posts, de leitura fácil, mas menos expectável para a idade, denuncia-se uma maturidade que se vai mostrando precoce.

Entre comentários feitos pela Marta no blog "As três Pirâmides" encontrei uma frase que me chamou particularmente à atenção e que se refere à Amizade e às venturas e desventuras que grassam pelo mundo:

"... se todas as pessoas lembrassem do que pensavam quando tinham meros 12 anos, tinham a resposta para tudo."

De facto em pequenas palavras se tiram grandes conclusões.
De facto resta-nos a vergonha de encontrar nas crianças, o bom senso que frequentemente negamos reconhecer-lhes.
De facto esta frase reflecte um julgamento simples para questões que fazemos complicadas e que tendem caracterizar a imbecilidade da sociedade mundial em que vivemos ou sobrevivemos.

Vale a pena pensar sobre isto. Quem sabe, seria bom que as crianças se fizessem ouvir nos Parlamentos, nos Governos, na ONU e em tantos outros lugares, não por representantes mas por elas mesmas, pois com julgamentos simples, elas cantariam por toda a parte, e não lhes faltaria, nem o engenho nem a arte.

sábado, agosto 12, 2006

O roubo aos deuses

O tempo passava lento e a temperatura do ar de Verão misturava-se com o nervosismo, dando forma a um sentimento que só o desejo compreendia. Os passos repetiam-se ao ritmo da ansiedade, numa caminhada que a espera sabia de cor, tudo para que o nome soasse e rompesse aquele olhar constante para o relógio. Tudo era esperado correr bem, mas a imprevisibilidade da vida obrigava à sensatez de recear a hora seguinte, embora a alma chamasse por cada minuto que passava.

13h... 13h26... 14h... a voz da enfermeira fez-se sentir, qual soar de trobetas, ante a solenidade do mais feliz dos acontecimentos. Tinha chegado o momento porque ansiara, minutos, horas, dias e anos. Tinha-se aberto a porta mais alta do mais venerado dos palácios e as guardas davam alas à minha correria, qual caminhada onde os passos nervosos galgavam de leve, portas e escadas rumo ao salão sagrado onde se guarda o mais precioso dos tesouros.

Eis que a derradeira porta que só a persistência e a coragem souberam abrir, se fazia esperar onde um sorriso enfeitava outra cara agora maternal, qual espelho da felicidade que era também a minha.
Finalmente tivera acesso, onde no Olimpo os deuses guardam os segredos primordiais, agora ao alcance do meu olhar que se esvaía num encantamento que concentrava naquele pequeno ser toda a energia do bater do coração, como se estivesse a ser embalado de mansinho no aconchego desenhado pela minha alma.

Naquele momento, a palavra "Pai" traçava o contorno da importância de tudo o que fizesse de ora em diante, numa adoração que os olhos convertiam em gotas de orvalho que escorriam numa face que sorrindo, se juntara à incapacidade momentânea de falar, como se nenhuma das palavras conhecidas tivesse a virtude que o momento exigia.

Sentia-me como se ousasse tirar aos deuses o que de mais precioso tinham estes em mil cuidados concebido, qual Prometeu que tirara o segredo do fogo para o dar aos homens, sentimento que se repete em cada momento que olho aqueles pequenos olhos expressivos que adornam aquela carita pequena e irrequieta que hoje faz 3 anos num encanto que se renova a cada instante, como se cada dia fosse o primeiro.

Parabéns meu filho, e amar-te é o mais simples e devoto dos gestos nesta adoração constante.

Nota:
O Rui Pedro resultou de um processo de concepção assistida (Fertilização In Vitro - ICSI), que resultou após várias tentativas e situações algo complicadas, graças à persistência e tenacidade física e psicológica, em particular da mãe, com a assistência constante durante todo o processo, de uma equipa competente de profissionais de saúde.
Nasceu no dia 12 de Agosto de 2003 às 13h26, com 49cm e 3,220Kg por parto assistido (cesariana) ao som da música "Feel" de Robbie Williams que se tornou assim, um símbolo familiar.
Seja este um gesto de estímulo e de encorajamento aos que, aquele meio possa ajudar ao ascender desejado da condição de pais.

Outro post relacionado com este:
O nascimento de um príncipe

sexta-feira, agosto 11, 2006

O Bonsai

Bonsai significa árvore cultivada em um vaso em forma de bandeja, e o seu cultivo sempre me fascinou, a ponto de me ter iniciado nessa arte, mais por desejo que por vocação ou conhecimento. Aprendi nesta arte que por vezes, em mil cuidados, sufocamos os que mais amamos, atribuindo ao que nos rodeia, as culpas que não vemos em nós próprios e só o descobrimos quando o instinto de sobrevivência e a teimosia nos faz perder quem mais desejamos conservar.

Escolhi a minha pequena árvore, que o destino nos cruzou em caminho, num espaço comercial. Foi quase amor à primeira vista e logo me apercebi que aquela me seria diferente das demais.
Cuidei que o seu lugar fosse o melhor, não lhe faltando, nem cuidados nem luz nem as atenções que se redobravam a cada instante no conter da forma que lhe destinara à revelia daquela, que de outro modo, seria naturalmente a sua.
Controlava a cada instante cada um dos pequenos ramos, quais rendilhados do mais puro verde, dizendo-lhe onde e quando crescer, o que a obrigava com a persistência obstinada a que a arte ensina.
A minha pequena árvore ia crescendo, qual paixão a dois, alimentada nela pelos cuidados e ternura que lhe entregava diariamente, e em mim, pela beleza de a ver crescer num espreguiçar verdejante que só eu controlava. Ela crescia para mim e eu deleitava o meu olhar naqueles ramos que ansiavam o mais ténue abraço.
Achava-me dono duma natureza que na verdade nunca poderia ser minha.

Contudo e apesar dos cuidados a que poucos se acometeriam, a minha pequena árvore viria brevemente a acusar um cansaço que eu não entendia, apenas denunciado pelo estiolar daquelas preciosas folhas que teimavam em tomar a cor dourada para em seguida tombarem num abandono, que me constrangia, como se quisessem tomar outro rumo em direcção à liberdade.
A situação ia ganhando intensidade, tal quanto o meu desespero enquanto redobrava os cuidados, qual ciúme que me tomava no arremesso contra a luz que achara ser a melhor, contra a água que acreditara ser a que bastara ou até contra a temperatura que pensava ser a mais adequada.
Embora não encontrasse respostas para as perguntas que entendia estarem apesar de tudo, respondidas, havia ainda uma que não ousara colocar, ou porque não pensasse nela, ou porque não quisesse pensar, condenando no julgamento apressado tudo e todos que não eu, que amava com devoção aquela pequena árvore, que amigos e vizinhos cobiçavam de tão verdejante que estivera, qual ser pequeno, belo mas indefeso que tomara à minha mercê nos melhores cuidados do mundo. Não, a culpa nunca seria minha, que a amava e era de mim que ela precisava mais do que tudo.

Em desespero de causa e no limite que nos coloca a teimosia, decidi ouvir de quem entende, o que fazer numa situação que as já escassas folhas afirmavam como quase perdida. Em boa hora, o olhar mais atento do jardineiro, me fizera ver o que o meu coração escondera no abrigo dos sentimentos.
Assim, no melhor dos cuidados, ignorara que o problema da minha pequena árvore não estava nem na luz, nem na água nem na cobiça alheia, mas apenas na capacidade de respirar e de crescer e de ser ela mesma, que eu lhe roubara no cuidar constante num egoísmo devoto, que a sufocava e impedia de ser o que ela era, ... uma pequena árvore, que, como qualquer pessoa, precisava de espaço, de receber a luz do sol e da lua, de sentir o vento no jardim e lavar-se nas águas das chuvas, para que as folhas despontassem, enfeitadas pelas gotas de orvalho, quais pequenas pérolas de felicidade.

Receando já o tardio do arrependimento, coloquei assim, a minha pequena árvore no jardim, onde ela retomou a vida que tivera, e a meias escolhemos o espaço onde os ramos se estendiam para darmos as mãos numa paixão que se manteve desde então, qual rainha do meu jardim.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Televisão, imprópria para consumo

Sempre entendi a televisão como um dos melhores e mais eficazes meios de comunicação, tendo-me tornado um incondicional devoto do pequeno ecrã, procurando constantemente, ora divertir-me, ora informar-me, ora aprender e descobrir sobre o mundo que nos rodeia.
Contudo, verifico que a tarefa a que frequentemente me proponho ao ligar aquele ecrã mágico, se torna cada vez mais difícil e quase que apenas um Hércules dos tempos modernos será talvez, capaz de descobrir algum valor acrescentado entre os comuns quatro canais à disposição.

Com efeito, entre o despertar ao adormecer, somos intoxicados, adormecidos, agredidos, enganados e embrutecidos com a mixórdia da maioria dos programas transmitidos, capaz de fazer vomitar o mais indiferente dos espectadores.

Intoxicados com programas totalmente inadequados à audiência, seja infantil, seja juvenil e até adulta, fazendo proliferar a violência e o desrespeito por quaisquer valores num público sensível e em crescimento.

Somos adormecidos, entre outros exemplos, intoxicados com a carga intensa de telenovelas, que se repetem até à exaustão, com histórias frequentemente absurdas e ridículas, fazendo nascer sucessos de audiência através do insucesso da inteligência colectiva.

Somos agredidos em reportagens, onde a função de informar é desrespeitosamente submetida à intenção de chocar e de fazer espectáculo à custa do sofrimento de pessoas, em que o "jornalismo" dá lugar à "preversão".

Somos enganados por notícias que frequentemente vemos desmentidas e em que a verificação prévia da veracidade das mesmas, se tornou num custo adicional a evitar, a bem das audiências. E quando tal não é possível, o "sencionalismo" ou a deturpação na forma de apresentar as reportagens, procura obter o mesmo efeito, de forma descarada e maliciosa.

Somos embrutecidos com programas, nomeadamente de suposto entertenimento, onde a consciência do ridículo é transformada num desprendimento de valores e na aculturação de um povo.

Senão vejamos:

- Desenhos animados ou similares pejados de violência;
- Programas e consursos onde as pessoas são tratadas como anormais ou de inteligência residual;
- Espectacularização das opções individuais, sexuais ou outras, transformando pessoas em grotescas personagens do ridículo;
- Talk-shows impregnados de mau gosto, onde impera a parvoice;
- Reportagens exacerbadas da infelicidade e do drama;
- Telenovelas emitidas três vezes quase em simultâneo;
- ... .

Acho até que as estações actuais poderão adoptar as siglas:

... RTP 1/2 = Raramente Tentamos Programar (1ª/2ª tentativa, embora a 2ª seja melhor);
... SIC = Sem Interesse na Cultura;
... TVI = Talvez Venhamos a Informar.

É esta a televisão que queremos ?
Não existe uma autoridade que ponha cobro a esta situação ?

Todos sabemos que quanto mais inculto é um povo, mais fácil é manipulá-lo e só essa me parece a explicação plausível para o que está a suceder.
Só essa me parece a explicação para algumas personagens ainda subsistirem à nossa volta e à nossa custa.

Desta vez, não fomos tomados pelos espanhóis nem invadidos pelas tropas de Napoleão. Fomos colonizados pela mediocridade, somos explorados por crápulas e somos sucessivamente governados por gente que tem sido incapaz de tornar este país numa nação decente, onde os "majores", os autarcas fraudulentos, os pedófilos, os Albertos Jardins e tantos outros sejam submetidos à justiça que merecem.

terça-feira, agosto 08, 2006

Tributo: Agradecimento a Ana Luar

Existem pessoas que passam pela nossa vida fazendo-se acompanhar por um sentimento como se um aroma a flores nos invadisse a alma, transportadas no vôo fascinante das mais belas borboletas em anúncio de Primavera.
São pessoas que de algum modo chegam e deixam a sua marca de forma indelével que o tempo se recusa a apagar e a memória saúda a cada segundo que passa, numa saudade constante e insaciável.

Com efeito é este o sentimento que me tomou a alma, ante a surpresa das palavras que sobre este blog vi publicadas, que menos as entendendo merecer, mais atestam a simpatia e a generosidade da Ana Luar, que no blog do mesmo nome, sendo a autora das mesmas, lançou neste espaço o feitiço do encantamento que aqui lhe é igualmente dedicado.

Quando a inteligência, a criatividade e o sentido da beleza se juntam em harmonia, revelam inevitavelmente a pessoa que, apesar de remeter aos demais tais predicados, ela própria se apresenta na posse dos mesmos na sua forma mais intensa.

Obrigado Ana Luar, num agradecimento consciente, que apesar de forma insuficiente, procura retribuir todos os sentimentos já testemunhados de apreço e de dedicação que lhes estão subjacentes, numa vénia em que humildemente lhe tomo as mãos para nelas depositar o mais devoto dos beijos.

quarta-feira, agosto 02, 2006

A orgia de sangue ... o crime à solta

Matamos, porque temos de nos defender ...
Defendemo-nos porque nos querem matar ...
Temos de ser implacáveis com o terrorismo ...
Chamam-nos terroristas porque defendemos a nossa terra ...
...
Deus está do nosso lado ...
Allah guia-nos ...
...

Este é o guião da morte, onde os actores são muitos e os espectadores são ainda muitos mais, em que uns aplaudem e outros limitam-se a ignorar enquanto os cenários tomam conta da realidade diária da destruição e do assassinato.
Sim, assassinato porque aqueles homens, mulheres e crianças, não morreram, foram roubadas à vida, foram assassinadas por fanáticos, políticos e generais e estes, sim, quais mortos de alma, alimentam-se insaciados, do sangue das vítimas.

Não importa se as vítimas são judeias, cristãs ou muçulmanas, são tão somente vítimas, e são inocentes, porque os verdadeiros culpados somos nós.
Somos nós que impávidos ficamos aos que rezam de armas em punho sobre a Tora,
Somos nós que impávidos ficamos aos que rezam empunhando as armas e o Corão,
Somos nós que impávidos ficamos aos que rezam empunhando as armas e a Bíblia,
Somos nós que impávidos ficamos aos que alimentam as guerras enquanto pavoneiam a imbecilidade que lhes coroa o espírito que já não têm, contra terroristas que são eles próprios, em nome duma Liberdade e Justiça que desconhecem.

Não importa se as vítimas são judeias, cristãs ou muçulmanas, porque aquela criança que foi assassinada era minha também, e aquele pai sou eu também que desesperado procuro acordar de um pesadelo que afinal é real e onde os criminosos existem impunes, numa orgia infernal que alimentamos submissos e impávidos.

Hoje um dos meus filhos dormiu sereno enquanto o outro foi assassinado por judeus, árabes e cristãos. E eu naquele pai, chorei desesperado também porque as balas que o mataram tinham ainda o cheiro dos livros sagrados que estavam nas mãos de quem as disparou e ouvem-se ainda as vozes de quem mandou disparar.

Hoje o holocausto estendeu-se mais um dia, e as estrelas de David e as cruzes gamadas apenas mudaram furtivamente de mãos quais testemunhos numa corrida de morte e assassínio.
Sei como àquele pai, que ninguém ouvirá o meu pranto, mas com ele choro em silêncio a dor dos inocentes que ninguém quer ouvir.