terça-feira, maio 30, 2006

Sabedura do Deserto

Eis que me apresento a vós cristandade e mouraria, de meu nome Sheikh Al-Ali Taj Mahal Hamas Adhir Hassim, um vosso criado e figura importante do jet-set, ou seja do camel-set deste deserto, onde as dunas dão vida a este blog.

Quiseram os deuses que periodicamente vos venha comentar de faladura sábia, assim o profeta me inspire.

Sabor a romãs no deserto ...

Pois assim foi, botei os arreios no camelo e fiz-me às caravanas bloguísticas. Passaram luas de caminho sereno, onde o sol me açoitou o cabedal e o couro cabeludo que deste, na verdade se vai rareando, pr'a grande gozo do camelo que acha mais pêlo na cauda do que eu nas latitudes acima dos ombros.
De cansado me encontrara e da areia farto, que teimosa se agarra a tudo quanto alcança, mesmo nos momentos mais íntimos de alívio, moendo-me em comichões dignas de um mártir.

Eis que do alto da bossa da montada avisto fruta madura e rubra quais faces de donzela envergonhada em dia de guloseima. Eram romãs, suculentas, sadias e poéticas que no mais frágil dos cestos brilhavam o blog da Paula. Eram assim, na tribo, conhecidas pelas Romãs de Paula.

Pelas barbas do profeta, pelas almas do deserto e pela comichão que me assola. Acha-se ali ela, em palácios de poesia, num anúncio de uma mulher como as outras, que à cautela avisa caminhar a 300 por cento, enquanto nos embala em poemas das 1001 noites, ou seja 1000 noites porque uma fica de caução, não fosse eu fugir com a mobília.

Dei-me assim por amores por aquela escrita de poesia, que muitos mais comigo se acharam em comentários, onde os nobres filhos da mesma, Rita, Bruno e Gustavo , ganham assento de privilégio na devoção à dança do ventre, donde brotam as palavras em saques de rimas, capazes de encantar até o mais renitente dos dromedários.

Achei-me então de conversa com os céus, sobre tal moura encantada e seus amores, na inquietude de pensar como seria para estes, caminhar no deserto com uma mulher daquelas.
Aquele cabelo da cor e o ondular das dunas, enfeitando uns olhos da mesma cor, capazes de enfeitiçar o mais maricas dos homens e fazer ajoelhar o mais paralítico dos infiéis.

Oh pobre camelo e companheiro, quanto esforço por seguir uma mulher que anda a 300 por cento desafiando a mais resistente das sandálias, até que se gastassem as já curtas pernas, no risco de arrastar os ditos pelo chão.
Oh inclemência do além que no feitiço atormentas em deleites de odalisca com tal escrita aos que ousam chegar a tal oásis de poesia.

(este post é dedicado à Paula Raposo e ao seu blog onde a sensibilidade e a inteligência denunciam uma mulher, que de facto, não é como todas as outras)

sábado, maio 27, 2006

Um povo adormecido, um país adiado

Nunca me moveu nenhum sentimento homofóbico e até confesso admirar alguns homossexuais que numa postura discreta e serena, enfrentam diariamente preconceitos, injustiça e todo um rol de inconsistências sociais, que já deveriam ter desaparecido.
Com efeito, sou dos que entendem por bem, a autorização de casamento entre dois indivíduos do mesmo sexo e não aceito a condenação dos homossexuais por parte da Igreja, pois esta deveria ter sempre uma atitude contra a exclusão social, em vez de a provocar.

Contudo, uma coisa é a orientação sexual de cada um e outra é procurar enfatizar uma postura, não diria "gay" por respeito aos que o são, mas "amaricada" no sentido negativo do mesmo.

Estou farto de ser constantemente bombardeado, sobretudo na TV com palermices mais ou menos amaricadas e/ou mais ou menos anormais, em programas, que supostamente poderiam ser de maior divertimento.
São os "Nunos Eirós", os "Níltons", os "Danieis Nascimentos", os "Serginhos" e os "Cláudios Ramos" que em trejeitos de gosto duvido reduzem à imbecilidade uma actividade, que deveria ser cultural, a de ver televisão.

De facto o nível (ou falta dele) geral dos programas que temos, é tão baixo que levanta questões sobre a sanidade mental de quem permite alguns dos programas nas cadeias de televisão.
São as horas infinitas de telenovelas, apenas entrecortadas por notícias do futebol ou de qualquer desgraça alheia, transformada num circo montado sobre o sofrimento dos outros, qual coliseu romano infestado de aplausos ante o sacrifício dos cristãos.
Claro que todo este bolo condenado a vómito, não ficaria decorado sem o nosso José Castelo Branco, não porque ele seja como é, pois que tal lhe confere o mais legítimo dos direitos, mas porque tal nos encharca constantemente os serões, ora em circos, paradas e quintas, ora em programas sem qualquer interesse ou graça, secundados por grotescos Alexandres Frotas.

Quando foi que qualquer de nós teve acesso a ver na televisão uma ópera ou opereta ? um programa de bailado ? um concerto de música clássica ? um teatro ? um bom programa cómico com artistas de verdade ?
Quando é os artistas para os programas são escolhidos pelo seu real valor e aptidão profissionais, em vez do tamanho do cú ou das mamas, da voluntariedade de se despirem ou supostamente se bamboliarem amaricadamente ?
Quando é que na televisão, um qualquer programa de qualidade deixa de ser visto como uma raridade digna de gravação par ser revista, aliviando os ecrãs privados da nojisse constante na televisão ?

Todos sabemos que esta barbárie, não é um fenómeno isolado dentro da nossa sociedade e nem aparece por acaso.
Todos sabemos que quanto mais embrutecido e ignorante é um povo, menos ele é capaz de pensar e de reagir.
Todos sabemos que quanto mais mobilizados os indivíduos para bandeirinhas, hinos e aplausos dirigidos a selecções milionárias de futebol, menos reagem aos aumentos descomunais de combustíveis ou de bens essenciais.
Todos sabemos que quanto mais absorvidos estivermos com as inaugurações, jogos e comícios, menos nos apercebemos que nos palcos das mesmas, se encontram os que estão envolvidos nos escândalos de "apitos dourados", de "reformas escandalosas", de "processos fraudulentos", de "jobs for the boys" ou de supostos pedófilos, corruptos e corruptores afrontando o poder judicial.

Quantas as bandeiras que enfeitaram carros, janelas e fachadas, a pedido do seleccionador nacional, numa mobilização geral em torno da selecção.
Raras as faixas negras ou gravatas da mesma cor, a sugestão migrada na net, em protesto contra a exorbitância e aberração de algumas reformas atribuídas a alguns políticos.

Não admira ser Portugal o 3º consumidor de alcoól, pois só assim se justifica a embriaguez com que lidamos com a realidade que nos cerca. Só assim se justifica o coma social e não se cumprir o hino que nos impele a ser um "nobre povo" e "levantar hoje de novo, o esplendor de Portugal" numa nova "marcha contra os canhões".

quinta-feira, maio 25, 2006

Fraternidade

É meio-dia e neste momento um amigo de amigos meus foi entre cravos e lágrimas para a sua última viagem.
Não entendo a emoção que sinto, pois eu não o conhecia e pouco ouvira até então, falar dele. Ouço os soluços quase em silêncio dos que o conheciam, na exaltação das qualidades e até talvez dos defeitos, mas sobretudo num dos mais nobres sentimentos que tentam fazer de nós, seres gregários, o da Fraternidade.

Sim, a Fraternidade, esse sentimento, essa atitude, esse princípio, que ao longo dos tempos foi acolhendo as gentes em "famílias", "organizações", "partidos" e "movimentos".
Eram os amigos que se juntavam na alegria e na desgraça, quais "famílias" no sentido lato, que garantiam o que de outra forma era dificilmente alcançável.
Eram trabalhadores que se juntavam e associavam, ganhando força negocial e facilitando o anonimato na luta laboral.
Eram gentes que no desespero diário de sobreviver dão corpo a partidos na ânsia de que profetas políticos lhes ajudem a matar a fome num qualquer 25 de Abril que quase nunca acontece.
Eram pessoas que se juntavam por causas aparentemente únicas, colocadas no vértice duma pirâmide imensa de necessidades de movimentos de ajuda.
Eram... são... e continuam a ser gentes, pessoas a quem a Fraternidade é por vezes a companhia de quem está só, o pão que lhes mata a fome, a mão que os ajuda a levantar, a emoção de chorar em conjunto, o suspirar pelas mesmas dores e o cantar em coro pelas mesmas alegrias.

É a Fraternidade que fez conhecido aquele amigo dos outros que hoje partiu, aquela mulher idosa que dedicou a vida a tratar os abandonados e doentes, aquele homem que deu instrução a quem aprendeu e tantos outros que estão sempre onde os esperam.

Amanhã será meio-dia e depois de amanhã outra vez, e continuará a fazer sentido que pessoas, gentes se juntem, partilhando as dores e os cantares, não porque sejam socialistas, comunistas democratas ou fascistas, não porque sejam portugueses, franceses ou de qualquer outra nacionalidade, não porque sejam brancos, pretos ou amarelos, não porque sejam deste ou daquela sindicato ou religião ... mas porque queiram ser gente, assumir a posição de pessoas, de indivíduos, de serem amigos do seu amigo, de se verem entre si como num espelho e serem capazes de trazer outro amigo também.

(texto dedicado aos que na Fraternidade, na Amizade, na Solidariedade, na Igualdade e na Liberdade encontram a sua postura natural de vida)

terça-feira, maio 23, 2006

Faleceu Fernando Bizarro

Faleceu hoje um elemento muito especial da comunidade Blogueira nacional, Fernando Bizarro do blog Fraternidade, dinamizador dos encontros entre bloggers por altura dos equinócios, como o Blognócio do Outono realizado em Outubro de 2005, o Blogstício de Inverno realizado em Janeiro de 2006 e o Blognócio da Primavera realizado em Março de 2006.

Para os que se queiram despedir do fernando Bizarro, poderão fazê-lo amanhã, a partir das 11h00, na Igreja Velha de Carnaxide.
O Funeral será na Quinta-feira, no crematório do Alto de S. João, às 12h00.

Os que o conheceram entendem por bem, levar-lhe um "cravo vermelho", acreditando que não há flor que ele mais gostasse que lhe levassem.

Eu não tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o Fernando Bizarro, embora tivesse várias vezes visto o seu blog Fraternidade. Contudo é também minha, a pena que os meus amigos sentem. Assim, junto ao dos demais amigos e familiares do Fernando Bizarro, o desejo de que repouse em paz, agradecendo-lhe o igual apreço pelo sentido de Fraternidade que lhe era reconhecido.

terça-feira, maio 16, 2006

La mer au milieu

Depuis que la mer est la,
Depuis que ta main me dit au revoir,
et je ne vois pas.

Depuis que les vagues me chantent cette chanson,
en me chantant des mots,
desquels je n’entends qu’un nom.
Un nom qui n’existe pas.

Je cherche et je ne trouve pas,
depuis que la distance existe.
Depuis que la mer est la.


Rui @t Blog, 5-11-1983

Pai: 16-Maio-1921 ... 11-Dezembro-2004


Pai, já cá não estás ... já cá não estamos os três.
Farias hoje 85 anos.
Descansa em paz.

sábado, maio 13, 2006

Fátima, a fé e a religião

Se todos os caminhos vão dar a Roma, naquele recinto, todos os passos se encaminhavam para aquele local apertado, onde as pessoas convergiam quais pequenas crias recolhendo-se nas asas da mãe, concentrando os olhares serenos naquela imagem alva onde as angústias são depositadas em preces confessadas mais ou menos em voz baixa.

A fila de gentes, ora de joelhos, ora de rastos, segue em silêncio o caminho marcado no chão, onde as lágrimas tentam em vão quebrar a dureza das pedras salpicadas das marcas das feridas dos que fizeram das promessas o ponto extremo da sua devoção, seja em agradecimento, seja em sacrifício na busca da ajuda que na probabilidade encontre pouca sorte.

Os ramos de flores emprestam às velas sortidas na forma e altura, com que se cruzam em passos apressados, aromas fugidios que se juntam às pequenas chamas votivas, tentando estas prolongar no espaço e no tempo a recordação dos entes a quem foram dedicadas.

Passam sacerdotes, monges e freiras.
Passam cónegos e auxiliares.
Passa gente de olhar triste, enquanto outros em cantares.
Passam emigrantes, gente simples e gente abastada.
Passam crianças, idosos e outros que já não esperam nada.
Passam polícias, políticos e até ladrões.
Passam até alguns que rezando bem alto, se esquecem da condição de vilões.

Passa aquela mãe que desesperada, veste o filho doente e fraco de anjo, esperando conservá-lo mais tempo com o bálsamo das suas lágrimas, reclamando à imagem de Nossa Senhora a simpatia de quem também já perdeu um filho.

Passam ateus, agnósticos e de outras confissões.
Passa tanta gente, meu Deus.

Porque não ficam ? Porque não estendem no recinto uma longa mesa com pedras de catedrais, onde nos actos votivos e orações, todos se juntam numa primeira ceia, partilhando o pão e o vinho e até as lágrimas e as angústias ?

domingo, maio 07, 2006

Dia da Mãe


Mãe,
eu sei que não irei decorar os beijos que te dou com as palavras que aqui plantei, pois o teu tempo já não se dispõe a ler nem te cobra os cuidados da maternidade.
Eu sei que as flores que te dou hoje já não têm o aroma de outros tempos, nem os espinhos das rosas já te cobram na pele o perfume de outros dias.
Eu sei que que as horas de ontem são apenas imagens que a igual custo guardas hoje e as dores de outrora já não passam o espaço que te guardei.

Mãe,
olha o Sol que já se levantou,
olha as núvens que apenas trazem a chuva que já não te molha, e agora a trovoada é apenas a música descompassada do tempo.
Os cães já não uivam e as hienas já não mordem, e os cuidados que me deste, são agora os teus pelo mundo que te chega por mim.

Mãe,
eu sei que não irei decorar os beijos que te dou com as palavras que aqui plantei, pois agora é meu, o tempo de cuidar de ti.

segunda-feira, maio 01, 2006

1º de Maio

Foi o 1º de Maio dos que trabalham,
foi também dos que não têm trabalho e querem trabalhar,
foi dos que têm trabalho e não querem trabalhar,
foi dos que trabalham e não têm salário,
foi dos que têm salário e não trabalham,
foi também dos que trabalham e temem deixar de trabalhar,
foi dos que querem deixar de trabalhar;

Foi dos que quiseram estar juntos e comemorar,
foi também dos que se separaram e fizeram festejos,
foi dos que não fizeram festa por estarem tristes,
foi também dos que estavam contentes por não festejar;

Terá sido o 1º de Maio ?
Ou foi apenas o feriado do 1º de Maio ?