sexta-feira, setembro 29, 2006

Sons da Escrita

Parabéns Ana Luar:

Acredito que a perseverança e a qualidade que colocamos naquilo que fazemos, acaba por atravessar fronteiras e chegar mais longe que as nossas mãos.
Um exemplo disto é a qualidade da escrita da Ana Luar, que tem cativado um número crescente de leitores, algo que não surpreende pela sua capacidade criadora e talento que a caracterizam.

Por mérito próprio e a convite, a Ana Luar encontra-se representada ante um átrio de excelentes autores que decoram o site "Sons da Escrita", da autoria de José-António Moreira.
Aqui, para além da leitura das obras dos vários autores expostos, é igualmente possível ouvi-las, num enquadramento musical que transportam a poesia a um nível, infelizmente ainda pouco comum.
Eis um exelente trabalho, que recomendo vivamente consultar, apreciar e naturalmente apludir.

Nota: para se ouvirem os poemas, no site "Sons da Escrita" basta clicar no lado direito na imagem com referância a "Podtrack Player - LISTEN NOW".

Parabéns à Ana Luar, pelo mérito que lhe é devido, e de que decerto se orgulham os que dela gostam e a apreciam.

Canela e Erva Doce

Parabéns Paula:


A Paula Raposo é um dos exemplos de como a poesia tem sido uma realidade pouco conhecida do grande público, quase como que uma actividade soturna e no abrigo do íntimo dos amigos mais próximos, em que por vezes a força e a tenacidade transbordam, quase contrariadas, para darem lugar ao nascimento de um livro.
A obra da Paula é de uma actividade intensa, como um parto continuado de poesia, onde poemas e gritos de dor e de alegria transbordam de contracções sucessivas de um talento nato.
No Sábado, dia 14 de Outubro às 18h30, será lançado o livro de poesia “Canela e Erva Doce”, da autoria da Paula Raposo (autora do blog Romãs da Paula) no bar Onda Jazz, que fica junto ao Campo das Cebolas.
O livro foi prefaciado pelo Gonçalo Nuno Martins e será e editado pela Magna Editora.

E este post é também um convite a todos os que habitualmente lêem e acompanham tudo o que a Paula escreve para que compareçam neste lançamento. A entrada é, logicamente, livre.

Parabéns Paula por mais um lançamento com que nos brindas.

domingo, setembro 24, 2006

Irmãos

- “Essa pessoa és TU”.

Afirma o amigo olhos nos olhos, com a expressão da luz no rosto dos que colocam nas palavras o peso da convicção.
- “E tu, concordas com ele ?”.
Pergunto derrubado na surpresa, como se estivesse a acordar de uma noite que não era a minha.
- “Sim”.
O assentimento não se fez esperar, na convicção partilhada numa mesma luz de vontades de agora e para o futuro.

Três amigos numa mesa de convicções partilhadas, quais homens livres e iguais, esgrimindo atitudes fraternas.

Enquanto filho único, nunca conhecera o peso na família de partilhar qualquer afiliação, e por isso guardara sempre o atributo de “irmão” para alguém que invulgarmente assumiria a importância que a outros dificilmente seria alcançável.
Adiante, guardara na resignação do silêncio a preciosa surpresa, que a pouco e pouco digeria em tragos hesitantes, enquanto regressava a casa.
Naquele momento sentia que de facto, a partir do nada, a minha família houvera crescido com verdadeiros irmãos que os deuses inesperadamente me lançaram ao caminho, numa sensação que não conhecera até então e que me enchera um pouco mais a alma.
Grato aos deuses, decorei o adormecer com um sorriso e abandonei o corpo ao descanso, num sono que de ora em diante deixara de ser solitário. Deixara de me sentir filho único.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Nem sempre vale a pena RECICLAR


(sem comentários)


terça-feira, setembro 19, 2006

Um pontapé no mundo

A penumbra no quarto e o ruído de fritar a paciência do despertador a que falta a eficácia da antena denunciado pela música que mal se entende, anuncia o dia que se esgueira ameaçador pelas frestas das persianas.
Como detesto este hábito de colocar cortinados, vidraças, janelas e como se ainda não chegasse, as portadas quase a quererem-nos convencer de que o dia não existe, numa prepotência desconcertante da noite.

Os degraus da porta condenam-me à saída numa pressa que o atraso contraria, atropelando o pequeno-almoço que ficou por comer, num mesmo ritual de todos os dias. Nem o cão se ergue à passagem, convencido do regresso a que vota uma apatia condescendente.
O telemóvel acusa a jornada com o sarcasmo habitual, com os telefonemas reclamando como seus o tempo e a paciência que não encontro e que desenho em esboços grosseiros de esforço reincidente.
Como detesto aquelas chamadas ao cair do minuto das nove, como que a incitar à evidência da preocupação vespertina, num ambiente pré-definido à medida da moldura da circunstância.
Mais uma e outra chamada, o colega que precisa de ajuda, a ajuda que o outro não quer dar, o compromisso que a equipa de trabalho deixou por cumprir, a urgência que se fez a si própria num acesso de histerismo, a pergunta que dá acesso à postura sacana do parceiro, o desespero do cliente com crises emergentes e sei lá que mais.

A hora do almoço que foi remetido para as calendas gregas, acaba por dar lugar aos momentos permissivos de estar sossegado na esperança de que a emotividade se transforme na criação de mais uma publicação no blog.
Saio já à pressa para a reunião que me obriga a atravessar a cidade, à velocidade da paciência onde após o tempo que não tenho, consigo estacionar o carro que me conhece há mais anos do que seria de esperar. Acedo ao local do compromisso onde a espera se redobra num esforço de contenção até atingir o clímax frustrante da desmarcação tardia do compromisso, indiferente ao impacte na vida habitual.

Regresso à rua numa correria que me impele à consulta no médico, já marcada com os meses que não recordo, à margem do sentido da oportunidade ou da necessidade, sem saber o que fazer com o tempo que ninguém sabe adivinhar do atraso do médico, que doente se fez substituir por outro a quem preciso de contar tudo de novo.
Sem saber se aliviado ou se preocupado, volto às lides que já me cansam, numa vontade que o corpo desconhece.
A noite faz ameaças nas nuvens que enviou para avisar o cinzento do anoitecer, ao ritmo da chuva que não espera, sorrateira, que eu chegue ao carro, numa corrida em vão.
A roupa toma então o estado viscoso e desconfortável de um semi-húmido a princípio frio e que pouco a pouco adopta uma atitude cúmplice da transpiração que me faz antecipar o desejo do momento áureo do próximo banho.
Resignado com o trânsito que me ameaça o pouco combustível que prevertidamente o ponteiro do depósito do carro acusa em coro com aquela pequena luz cor-de-laranja, sigo numa avenida que serve de palco aos telefonemas residuais do dia, suportes fatais das querelas familiares de posfácios diários.

Estou farto disto tudo.
Paro o carro, de onde saio em abandono e abro a camisa à chuva a que me arremeto de braços abertos. Abro as mãos de tudo e de todos onde o telemóvel lidera, e sigo descalço por uma rua transversal onde dou um pontapé ao mundo, como se fosse uma lata vazia.
Rasgo o cenário que me envolve e sigo para o calor do Sol, para me sentar à sombra de nada.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Aviso à navegação


Caros colegas bloguistas, após ter convertido o template do meu blog para a nova versão beta do Blogger (processo que foi anunciado como sendo irreversível) constatei que apenas me é possível inserir comentários com a identificação de "blogger" em blogs que já tenham igualmente procedido àquela conversão. Nos restantes posso apenas inserir comentários como "other" e a partir daí inserir o meu nome e o endereço do meu blog. Nos blogs que apenas autorizam comentários de bloguistas já registados, não me é possível inserir comentários porque o sistema não reconhece o nome, uma vez que na versão beta aquele é substituído pelo endereço de e-mail.
Resta-me assim, esperar que o Blogger ultrapasse esta limitação (ou erro), e até lá apelar para a vossa compreensão ao motivo pelo qual não tenho comentado em alguns dos vossos blogs, transformando-me num leitor / espectador atento, mas "mudo".

quarta-feira, setembro 13, 2006

Esta noite não há luar

A inquietação e a neura juntaram-se ao cinzento das núvens e numa dança nervosa, ostentam o contentamento descontente de ocultar o azul do céu, num prenúncio desentendido de um qualquer anjo negro de má notícia, que termina por não se fazer esperar.

O relógio parou e os ponteiros abandonaram-se à sorte dos deuses na notícia de falecimento, que momentos antes, seria inesperada na quietude da situação, que não sendo eterna, foi prolongando a partilha dos momentos em família.

Os olhos fecharam-se e o silêncio uniu as almas dos amigos e familiares, a que me faço igualmente presente, na partilha da dor, que só esta conhece.
Recolho as lágrimas de filha, onde junto as de amigo numa devoção fraterna juntando os meus aos braços que se estendem num imenso abraço de conforto.

Esta noite não há luar, em que mais uma Mãe, tomou o lugar de mais uma estrela no firmamento, onde moram os anjos da guarda e as preces se fazem ouvir.
Descanse em paz profunda lá no céu eternamente.

Com os mais sentidos pêsames dirigidos à minha muito querida amiga Ana, familiares e amigos na dor da partida da sua mãe, com cujo acompanhamento do estado de saúde me lisongeou numa preocupação constante que os que lhe querem bem, sabem partilhar.

terça-feira, setembro 12, 2006

Viva mais a sua casa

Neste fim de semana, por necessidade comum a muitos mais, decidi deslocar-me ao IKEA, agora tão em moda entre aqueles que como eu tiveram necessidade de satisfazer uma arrumação com um qualquer móvel que cumprisse os requisitos já estabelecidos.

Apesar de já saber o que queria, o tempo e o espaço dilataram-se numa combinação demasiado irritante, a que se associaram o desespero e a contrariedade de quem se sente perdido num labirinto à partida pouco evidente mas mesmo assim, demasiado eficaz.
Entre o emaranhado de utensílios, móveis e de sei lá mais o quê, aquele formigueiro de gente que se perde e acha, arrastou-me para uma procissão quase apática, onde a fé é remetida rapidamente para a vontade de concluir a compra e emergir de novo para a liberdade de volta aos espaços livres.

Entre voltas e reviravoltas, num caminhar constante mas sem direcção ou sentidos claramente definidos, fui alimentando o descontentamento com a constatação de como:

  • Os caminhos estavam assinalados, sem que contudo estivessem a apelar a atenção do cliente, numa atitude cínica de o manter nos espaços na sugestão da compra;

  • Portas de saída, eram algumas, mas com indicação de acesso restrito e facilmente indetectáveis à atenção dos clientes que as quisessem identificar em caso de necessidade urgente;

  • Os stoks indicados pelo sistema informático anunciam existências que os expositores desmentem, obrigando a migrar de secção em secção numa procura em vão, dos produtos sugeridos por empregados, apesar de tudo, diligentes;

  • Para rematar e chegar à zona de self-service e de pagamento, o percurso a fazer, transforma o acto numa travessia que desafia a paciência, enquanto se atravessam áreas sucessivas como dunas constantes num deserto contínuo, qual caravana saturada à míngua da compra.

Com tudo aquilo, coloquei-me irritado, contantemente as questões ?

  • E se houvesse um incêndio ou qualquer outra emergência ? Como encontrariam as pessoas a saída ?

  • Como se ousa traçar e aprovar percursos labirínticos que transformam a mais simples das compras, numa jornada indesejada ?

Fiquei sem saber se de facto o IKEA tem um elevado número de clientes, ou se apenas um pequeno número de pessoas consegue encontrar um meio fácil e eficaz de sair em tempo útil.

Para mim ficou claro que "IKEA, nunca mais" e que o slogan que aquele anuncia "viva mais a sua casa" era mesmo para levar a sério.

segunda-feira, setembro 11, 2006

11 de Setembro, 5 anos depois

Cumprem-se hoje cinco anos sobre o atentado de 11 de Setembro de 2001, quando dois aviões colidiram com as famosas torres Twin Towers, um dos símbolos de Nova Iorque, enquanto outros 2 aviões se despenham, numa atitude suicida, um contra o edifício do Pentágono e outro algures no solo americano (Pensylvania).
O mundo ficou assim, chocado com a atitude terrorista de um punhado de homens, que aparentemente contra todos os princípios de racionalidade, provocam um abalo na consciência ocidental, abalo esse que se veio repercutir no âmbito político e financeiro internacionais.
Desde então, a palavra "terrorista" passou a significar o alvo a abater, a entidade que ninguém parece conhecer e que todos odeiam, por quaisquer razões mais ou menos claras. "Eles" (os terroristas) passam a estar em toda a parte, e a sua invocação é feita, sempre que politicamente pareça ser mais conveniente.
No entanto, e sem querer apresentar aqui qualquer juízo de valor sobre o sucedido, ocorrem-me algumas questões, para as quais, as respostas nem sempre são as mais evidentes, comportando-se como indícios da menor probabilidade do "tudo é possível".

  • Quanto ganhou George W. Bush em termos políticos com os atentados do 11 de Setembro, em que a "luta contra o terrorismo" lhe abriu portas a uma liberdade de acção com a credibilidade do povo americano, a ponto de, a coberto daquele, poder actuar mais livremente no Afeganistão, no Iraque e em qualquer ponto do globo, indiferente à ilegitimidade e às regras geralmente aceitesde direitos humanos ?

  • Qual o volume financeiro envolvido na indústria militar, decorrente das acções militares subsequentes, envolvidas nas "lutas contra os terroristas" ?

  • Qual a extensão da actuação do governo americano em acções ilegais, envolvendo escutas telefónicas, detenções, interrogatórios, torturas, etc. não autorizados pelos tribunais competentes, a ponto de não se saber exactamente quem foi detido, quem foi escutado, etc., qual regime de terror do qual, qualquer um pode ser vítima ?

  • Quantos milhões de dólares foram, quer movimentados pelas seguradoras, quer não reclamados às mesmas, referentes a seguros accionáveis pelos acontecimentos ?

  • Qual a verdadeira história associada ao ouro supostamente guardado nas caves das torres e cujas quantidades e destino parecem ser parte de um segredo incoerente ?

  • Onde se verificou o maior impacte financeiro e social, em termos negativos, decorrente da reacção dos mercados internacionais dos atentados de 11 de Setembro, na América ou na Europa ?

  • Qual a verdade em relação ao atentado contra o Pentágono, onde várias testemunhas, designadamente bombeiros, referem não ter visto destroços de qualquer avião, além de que a dimensão da área afectada não coincide com a envergadura das asas do avião supostamente utilizado ?

  • Por que razão os meios de defesa aéreos foram inoperantes ?

  • Por que razão, pouco antes dos atentados de 11 de Setembro, se verificaram transacções nos mercados financeiros, aparentemente anómalas ?

  • É inédito na América, um presidente tentar enganar a opinião pública ou serem levado a cabo acções que aparentemente abalam as convicções, quer de exequibilidade quer de esclarecimento, como por exemplo o caso Watergate ou a morte do presidente J. F. Kennedy ?

  • Serão George W. Bush e a sua administração e círculo de influência, entidades credíveis, a julgar por ignorarem as determinações da ONU, por ignorarem o Direito Internacional, por ignorarem os Direitos Humanos, por acções ilegais de escutas telefónicas não autorizadas pelos tribunais, por justificarem a invasão do Iraque com as armas biológicas iraquianas que aparentemente nunca foram encontradas, por garantir a prisão próxima de Osama Bin Laden (que no passado foi suportado pelo governo americano) que nunca ocorreu ?

  • Em termos de "custo" humanitário, para a indústria do armamento ou em termos políticos, que significa a morte de 3.000 ou 4.000 pessoas, quando comparada com a morte de dezenas de milhar de pessoas em intervenções militares, como a do Iraque, sobretudo quando com o sacrifício das primeiras, se obtêm vastos dividendos políticos e estratégicos ?

Em suma, quem de facto, está por detrás dos atentados de 11 de Setembro ?

Não digo que o terrorismo não existe, não digo que os terroristas não andam por aí, não digo que os entendo, mas não obtenho ainda a resposta para estas questões. Talvez um dia, quem sabe, os terroristas mudem de nome ou apelido e as vítimas se somem num imenso número de pessoas crentes e de boa fé.

terça-feira, setembro 05, 2006

Freddie Mercury faria hoje 60 anos

Freddie Mercury e os Queen sempre foram da minha preferência musical, a par de outros nomes como os Pink Floid ou Supertramp. Contudo, nunca entendi porque a morte de Freddie me comoveu de uma forma singular e inexplicável e quase sem lógica, uma vez que nem sequer fui um fã atento da sua carreira ou vida pessoal.

A única ligação especial, se é que se pode chamar de ligação com aquele artista inigualável, era o facto de no passado me parecer física e fisionomicamente como ele, a ponto de ter sido conhecido entre alguns amigos por "Freddie" e de logo após a sua morte ter assistido a uma expressão de espanto do empregado numa loja de fotografia, ferquentada por turistas, quando ele me viu.

Confesso que em termos artísticos, para mim, Freddie Mercury era o melhor dos melhores e a sua partida, deixou um lugar que mais ninguém conseguirá ocupar.

Dados bibliográficos:

Freddie Mercury, nome artístico de Farrokh Bulsara (Zanzibar, 5 de setembro de 1946 — Londres, 24 de novembro de 1991) foi o vocalista e líder da banda de rock britânica Queen.
Mercury nasceu na localidade de Stone Town, na ilha Zanzibar, que à época, era uma colônia britânica, hoje pertencente à Tanzânia, na África Oriental. Os seus pais, Bomi e Jer Bulsara, eram indianos de etnia persa.

Mercury foi educado na St. Peter Boarding School, uma escola inglesa perto de Mumbai, na Índia, onde deu os primeiros passos no âmbito da música, ao ter aulas de piano. Foi na escola que ele começou a ser chamado "Freddie", e com o tempo até os seus pais passaram a chamá-lo assim.
Depois de se formar na sua terra natal, Mercury e família mudaram-se em 1964 para Inglaterra devido a uma revolução iniciada em Zanzibar. Ele tinha dezoito anos. Lá, diplomou-se em "Design Gráfico e Artístico" na Ealing Art College, seguindo os passos de Pete Townshend. Este conhecimento mostrar-se-ia útil depois de Freddie projetar o famoso símbolo da banda.
Na faculdade ele conheceu o baixista Tim Staffell. Tim tinha uma banda na faculdade chamada Smile, que tinha Brian May como guitarrista e Roger Taylor como baterista, e levou Freddie para participar dos ensaios.

Em abril de 1970, Tim deixa o grupo e Freddie acaba ficando como vocalista da banda que passa a se chamar Queen. Freddie decide mudar o seu nome para Mercury. Ainda em 1970 ele conheceu Mary Austin, com quem viveu por sete anos e manteve forte amizade até o fim de sua vida (inclusive a sua casa em Londres ele a deixou para ela).
Mercury compôs muitos dos sucessos da banda, como "Bohemian Rhapsody", "Somebody to Love" e "We Are the Champions", hinos eloqüentes e de estruturação extraordinária, particulares e sempre eternos.
Lançou dois discos a solo, aclamados pela crítica e público. Mercury era bissexual, mas só assumiu publicamente sua condição ao anunciar que estava com SIDA, um dia antes de falecer, em 24 de novembro de 1991 em Londres.
Em 25 de novembro de 1992 foi inaugurada uma estátua em sua homenagem, com a presença de Brian May, Roger Taylor, da cantora Montserrat Caballé, Jer e Bomi Bulsara (pais de Freddie) e Kashmira Bulsara (irmã de Freddie) em Montreux, na Suíça, cidade adotada por Freddie como seu segundo lar.
Os membros remanescentes dos Queen fundaram uma associação de caridade em seu nome, a "The Mercury Phoenix Trust", e organizaram em abril de 1992 o show beneficente "The Freddie Mercury Tribute Concert" para homenagear o trabalho e a vida de Freddie.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Futebol: o caso Mateus

Todos temos sido bombardeados sobre o Futebol e o "caso Mateus". Sem ser uma actividade que me interesse muito e sem conhecer todos os detalhes que constituem este caso, quase uma futebolonovela cujos artistas convidados ou não, são a FIFA a Federação Portuguesa de Futebol, a Liga, o Gil Vicente, o Belenenses e o Leixões, ficam aqui, algumas reflexões.

Ao longo destes tempos, temos vindo a ver desempenhar cargos relevantes no futebol português, pessoas que no mínimo, têm visto o seu carácter ser posto em causa pelos mais diversos motivos, senão vejamos:

  • Major Valentim Loureiro: Sobre este cavalheiro nem é preciso falar muito, pois acho que nem o meu filho de 3 anos acredita nele, e o lugar de presidente da Liga (entre os inúmeros cargos que ocupa nas mais diversas instituições) não me parece que favoreça em nada a imagem daquela instituição. Resultado: credibilidade = 0 (zero).
  • Gilberto Madaíl: Embora com uma imagem que tem variado ao longo do tempo, o seu discurso denota predicados que não inspiram confiança, instigados talvez pelo ditado popular "diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és". Resultado: credibilidade = 0 (zero).
  • Pinto da Costa: Líder incontestado do FCP, tem nas falas envenenadas e comportamento de há anos a principal testemunha do carácter que o caso "Apito Dourado" ainda não tornou público oficialmente. Resultado: credibilidade = 0 (zero).
  • Vale e Azevedo: Ex-líder do SLB, com um percurso fulminante, quer a nível do clube que liderou, quer a nível profissional, levando à prisão, ante um magote de candidatos a carrasco numa execução desejada por muitos. Resultado: credibilidade = 0 (zero).
  • Sousa Cintra: Ex-líder do SCP, tanto conhecido pela sua tenacidade pessoal, como pela forma como gere os seus negócios, o que o tem levado a diferendos mais ou menos públicos, como o caso com a consultora Novabase, e que anuncia critérios discutíveis de discernimento. Resultado: credibilidade = 0 (zero).
  • Santana Lopes: Ex-líder do SCP, objecto frequente da chacota pública, até pelos seus colegas de partido, o que o tem exposto a situações de ridículo, ante a esgrima de apoiantes fervorosos e um mar de gente que o desvaloriza. Resultado: credibilidade = 0 (zero).
  • Carlos Cruz: Também este antigo apresentador de televisão se passeou nos corredores do poder ligado ao futebol, e o corrente processo de pedofilia em que está envolvido, não abona nada em seu favor. Resultado: credibilidade = 0 (zero).

Ora bem, pegando apenas nestes exemplos de um conjunto muito vasto de pessoas e de entidades que têm vindo sucessivamente associadas a situações de escândalo, de tráfico de influências, etc. e aplicando o critério de análise de credibilidade, 0x0x0x0x0x0x0=0, ou seja, no meu entender, e decerto no entender de muitos mais, o futebol português tem pouca ou nenhuma credibilidade, e considerar esta actividade como "de interesse nacional", apenas adjectiva este país de igual fama, que apesar de tudo, bons resultados de jogos efectuados no âmbito da selecção nacional, não conseguem apagar.

quinta-feira, agosto 31, 2006

Dia mundial dos blogues

Pois é, para quem ainda não saiba, hoje comemora-se o dia mundial dos blogues. Supostamente tratando-se de uma iniciativa do bloguista israelita Nir Ofir, em 2005, esta comemoração tem apenas um ano de vida.

Na verdade não sei para que serve, nem se faz sentido haver um dia como este, que afinal poucos conhecem e a maioria continuará a ignorar, como se fosse a comemoração de algo a que alheios à importância, se tornasse comum o seu consumo, cada vez mais, constante entre nós.

Confesso que até ao momento em que, por cortesia, acedi ao blog de uma amiga, nunca me tinha sentido atraído por algo do género, como se tratasse de mais uma "mania" como tantas outras que habitualmente remeto ao desinteresse sazonal.

Confesso que em poucos minutos, e na maior surpresa me vi contaminado no poder de expressão que um simples blog pode assumir, a ponto de em poucos minutos ter construído o meu próprio blog, ao qual, como sempre faço com tudo, dediquei o meu melhor empenho, fiel aos sentimentos que me levam a contactar com os outros.

Confesso que, salvo indicação ou evidência em contrário, todos os conteúdos se referem a situações reais, ainda que frequentemente sejam sujeitas a tratamento mais ou menos literário, seja para provocar um sorriso no leitor na situação mais alegre ou caricata, seja para tentar conter qualquer lágrima teimosa perante uma situação mais dramática.

Confesso que em tudo o que escrevi e escrevo, tento imprimir os princípios que mais defendo, nomeadamente os de Liberdade, de Igualdade de direitos e de oportunidades e de Fraternidade, baseados na Justiça e na Verdade.

Confesso que encontrei neste espaço, tão pequeno e ao mesmo tempo tão vasto, as mais diversas pessoas e convicções, que diferentes se têm tornado num mosaico vivo e colorido de cidadania e de ideias por onde, entre outros, caminho qual criança fascinada por tudo o que a rodeia.

Confesso que alguns dos blogues, pelo seu conteúdo e encanto, fazem parte do gesto diário de leitura, como se fossem pequenos caramelos com que adoço o espaço de leitura, qual abelha que colhe num jardim, pequenos pedaços de néctar nas flores mais apetecíveis, plantadas e cuidadas pelas pessoas que mais admiro e que pouco a pouco se têm tornado parte de mim.

Confesso que cada um dos que a este espaço vêm, levam consigo um pouco de mim, e cada comentário que aqui registam, deixam um pouco do seu aroma com que me delicio num gesto genuíno de agradecimento.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Débito ou défice de inteligência

Acabei de receber uma carta enviada pelo Centro Hospitalar das Caldas da Rainha com uma Nota de Débito, a reclamar pagamento de taxa moderadora correspondente ao episódio de urgência, efectuado no hospital daquela localidade.

Até aqui tudo bem, o "sistema" funcionou aparentemente bem, se não fora:

Aquando do dito episódio, e no final do mesmo, dirigi-me ao balcão para, não só carimbar receitas como para validar de que não havia nada pendente do processo, ao que me disseram que não, e consequentemente vim-me embora, tranquilo embora frustado com 3 horas de espera na companhia dos poucos utentes que estavam presentes (aparentemente apenas 1 ou 2 médicos estavam a atender num ritmo, no mínimo, suspeito).

A referida Nota de Débito, acresce no ridículo, da solicitação que o pagamento seja efectuado no local (que não é o meu local normal de residência) no prazo de quinze dias (já supõem a minha disponibilidade logística para o efeito) e nos dias úteis entre as 9h e as 12h30 e 14h e 16h, ou em alternativa, por meio de cheque ou vale de correio.

Pelos vistos, "eles" até já têm tudo previsto. Só que o montante a pagar é de 1,55€, ou seja, repetindo o extenso da missiva (talvez até eles tenham reconhecido o ridículo da situação), "um euro e cinquenta e cinco cêntimos".
Isto é, alguém cuja função é a de assinar aquelas missivas, num gatafunho que de nada serve e apenas denuncia talvez a vergonha, pelo menos de assinar esta, gastou e pretende que eu gaste também, uma quantia bem superior àquela que, não só, o hospital não soube cobrar, ou que subsequentemente vem reclamar, incorrendo em custos adicionais estupidamente superiores.

Fiquei sem saber se no Ministério da Saúde, a missão de assinar / gatafunhar Notas de Débito faz parte de alguma carreira profissional em especial, ou se a função pretende que seja "raciocinar" e agir em conformidade com a análise criteriosa do documento que se está a assinar.

E ainda dissem que os burros estão em vias de extinção ...

segunda-feira, agosto 21, 2006

Se todas as pessoas lembrassem do que pensavam quando tinham meros 12 anos, tinham a resposta para tudo

Entre recantos e deambulações entre os blogs da minha preferência e que por isso, passaram a fazer parte do meu hábito de visita quase diária, através de escala de leitura no blog "As três Pirâmides" da Luna acabei por aportar ao blog da Marta Santos, supostamente uma jovem de 12 anos, que recomendo como remédio para a nossa falta crónica de bom senso de adultos, onde entre os vários posts, de leitura fácil, mas menos expectável para a idade, denuncia-se uma maturidade que se vai mostrando precoce.

Entre comentários feitos pela Marta no blog "As três Pirâmides" encontrei uma frase que me chamou particularmente à atenção e que se refere à Amizade e às venturas e desventuras que grassam pelo mundo:

"... se todas as pessoas lembrassem do que pensavam quando tinham meros 12 anos, tinham a resposta para tudo."

De facto em pequenas palavras se tiram grandes conclusões.
De facto resta-nos a vergonha de encontrar nas crianças, o bom senso que frequentemente negamos reconhecer-lhes.
De facto esta frase reflecte um julgamento simples para questões que fazemos complicadas e que tendem caracterizar a imbecilidade da sociedade mundial em que vivemos ou sobrevivemos.

Vale a pena pensar sobre isto. Quem sabe, seria bom que as crianças se fizessem ouvir nos Parlamentos, nos Governos, na ONU e em tantos outros lugares, não por representantes mas por elas mesmas, pois com julgamentos simples, elas cantariam por toda a parte, e não lhes faltaria, nem o engenho nem a arte.

sábado, agosto 12, 2006

O roubo aos deuses

O tempo passava lento e a temperatura do ar de Verão misturava-se com o nervosismo, dando forma a um sentimento que só o desejo compreendia. Os passos repetiam-se ao ritmo da ansiedade, numa caminhada que a espera sabia de cor, tudo para que o nome soasse e rompesse aquele olhar constante para o relógio. Tudo era esperado correr bem, mas a imprevisibilidade da vida obrigava à sensatez de recear a hora seguinte, embora a alma chamasse por cada minuto que passava.

13h... 13h26... 14h... a voz da enfermeira fez-se sentir, qual soar de trobetas, ante a solenidade do mais feliz dos acontecimentos. Tinha chegado o momento porque ansiara, minutos, horas, dias e anos. Tinha-se aberto a porta mais alta do mais venerado dos palácios e as guardas davam alas à minha correria, qual caminhada onde os passos nervosos galgavam de leve, portas e escadas rumo ao salão sagrado onde se guarda o mais precioso dos tesouros.

Eis que a derradeira porta que só a persistência e a coragem souberam abrir, se fazia esperar onde um sorriso enfeitava outra cara agora maternal, qual espelho da felicidade que era também a minha.
Finalmente tivera acesso, onde no Olimpo os deuses guardam os segredos primordiais, agora ao alcance do meu olhar que se esvaía num encantamento que concentrava naquele pequeno ser toda a energia do bater do coração, como se estivesse a ser embalado de mansinho no aconchego desenhado pela minha alma.

Naquele momento, a palavra "Pai" traçava o contorno da importância de tudo o que fizesse de ora em diante, numa adoração que os olhos convertiam em gotas de orvalho que escorriam numa face que sorrindo, se juntara à incapacidade momentânea de falar, como se nenhuma das palavras conhecidas tivesse a virtude que o momento exigia.

Sentia-me como se ousasse tirar aos deuses o que de mais precioso tinham estes em mil cuidados concebido, qual Prometeu que tirara o segredo do fogo para o dar aos homens, sentimento que se repete em cada momento que olho aqueles pequenos olhos expressivos que adornam aquela carita pequena e irrequieta que hoje faz 3 anos num encanto que se renova a cada instante, como se cada dia fosse o primeiro.

Parabéns meu filho, e amar-te é o mais simples e devoto dos gestos nesta adoração constante.

Nota:
O Rui Pedro resultou de um processo de concepção assistida (Fertilização In Vitro - ICSI), que resultou após várias tentativas e situações algo complicadas, graças à persistência e tenacidade física e psicológica, em particular da mãe, com a assistência constante durante todo o processo, de uma equipa competente de profissionais de saúde.
Nasceu no dia 12 de Agosto de 2003 às 13h26, com 49cm e 3,220Kg por parto assistido (cesariana) ao som da música "Feel" de Robbie Williams que se tornou assim, um símbolo familiar.
Seja este um gesto de estímulo e de encorajamento aos que, aquele meio possa ajudar ao ascender desejado da condição de pais.

Outro post relacionado com este:
O nascimento de um príncipe

sexta-feira, agosto 11, 2006

O Bonsai

Bonsai significa árvore cultivada em um vaso em forma de bandeja, e o seu cultivo sempre me fascinou, a ponto de me ter iniciado nessa arte, mais por desejo que por vocação ou conhecimento. Aprendi nesta arte que por vezes, em mil cuidados, sufocamos os que mais amamos, atribuindo ao que nos rodeia, as culpas que não vemos em nós próprios e só o descobrimos quando o instinto de sobrevivência e a teimosia nos faz perder quem mais desejamos conservar.

Escolhi a minha pequena árvore, que o destino nos cruzou em caminho, num espaço comercial. Foi quase amor à primeira vista e logo me apercebi que aquela me seria diferente das demais.
Cuidei que o seu lugar fosse o melhor, não lhe faltando, nem cuidados nem luz nem as atenções que se redobravam a cada instante no conter da forma que lhe destinara à revelia daquela, que de outro modo, seria naturalmente a sua.
Controlava a cada instante cada um dos pequenos ramos, quais rendilhados do mais puro verde, dizendo-lhe onde e quando crescer, o que a obrigava com a persistência obstinada a que a arte ensina.
A minha pequena árvore ia crescendo, qual paixão a dois, alimentada nela pelos cuidados e ternura que lhe entregava diariamente, e em mim, pela beleza de a ver crescer num espreguiçar verdejante que só eu controlava. Ela crescia para mim e eu deleitava o meu olhar naqueles ramos que ansiavam o mais ténue abraço.
Achava-me dono duma natureza que na verdade nunca poderia ser minha.

Contudo e apesar dos cuidados a que poucos se acometeriam, a minha pequena árvore viria brevemente a acusar um cansaço que eu não entendia, apenas denunciado pelo estiolar daquelas preciosas folhas que teimavam em tomar a cor dourada para em seguida tombarem num abandono, que me constrangia, como se quisessem tomar outro rumo em direcção à liberdade.
A situação ia ganhando intensidade, tal quanto o meu desespero enquanto redobrava os cuidados, qual ciúme que me tomava no arremesso contra a luz que achara ser a melhor, contra a água que acreditara ser a que bastara ou até contra a temperatura que pensava ser a mais adequada.
Embora não encontrasse respostas para as perguntas que entendia estarem apesar de tudo, respondidas, havia ainda uma que não ousara colocar, ou porque não pensasse nela, ou porque não quisesse pensar, condenando no julgamento apressado tudo e todos que não eu, que amava com devoção aquela pequena árvore, que amigos e vizinhos cobiçavam de tão verdejante que estivera, qual ser pequeno, belo mas indefeso que tomara à minha mercê nos melhores cuidados do mundo. Não, a culpa nunca seria minha, que a amava e era de mim que ela precisava mais do que tudo.

Em desespero de causa e no limite que nos coloca a teimosia, decidi ouvir de quem entende, o que fazer numa situação que as já escassas folhas afirmavam como quase perdida. Em boa hora, o olhar mais atento do jardineiro, me fizera ver o que o meu coração escondera no abrigo dos sentimentos.
Assim, no melhor dos cuidados, ignorara que o problema da minha pequena árvore não estava nem na luz, nem na água nem na cobiça alheia, mas apenas na capacidade de respirar e de crescer e de ser ela mesma, que eu lhe roubara no cuidar constante num egoísmo devoto, que a sufocava e impedia de ser o que ela era, ... uma pequena árvore, que, como qualquer pessoa, precisava de espaço, de receber a luz do sol e da lua, de sentir o vento no jardim e lavar-se nas águas das chuvas, para que as folhas despontassem, enfeitadas pelas gotas de orvalho, quais pequenas pérolas de felicidade.

Receando já o tardio do arrependimento, coloquei assim, a minha pequena árvore no jardim, onde ela retomou a vida que tivera, e a meias escolhemos o espaço onde os ramos se estendiam para darmos as mãos numa paixão que se manteve desde então, qual rainha do meu jardim.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Televisão, imprópria para consumo

Sempre entendi a televisão como um dos melhores e mais eficazes meios de comunicação, tendo-me tornado um incondicional devoto do pequeno ecrã, procurando constantemente, ora divertir-me, ora informar-me, ora aprender e descobrir sobre o mundo que nos rodeia.
Contudo, verifico que a tarefa a que frequentemente me proponho ao ligar aquele ecrã mágico, se torna cada vez mais difícil e quase que apenas um Hércules dos tempos modernos será talvez, capaz de descobrir algum valor acrescentado entre os comuns quatro canais à disposição.

Com efeito, entre o despertar ao adormecer, somos intoxicados, adormecidos, agredidos, enganados e embrutecidos com a mixórdia da maioria dos programas transmitidos, capaz de fazer vomitar o mais indiferente dos espectadores.

Intoxicados com programas totalmente inadequados à audiência, seja infantil, seja juvenil e até adulta, fazendo proliferar a violência e o desrespeito por quaisquer valores num público sensível e em crescimento.

Somos adormecidos, entre outros exemplos, intoxicados com a carga intensa de telenovelas, que se repetem até à exaustão, com histórias frequentemente absurdas e ridículas, fazendo nascer sucessos de audiência através do insucesso da inteligência colectiva.

Somos agredidos em reportagens, onde a função de informar é desrespeitosamente submetida à intenção de chocar e de fazer espectáculo à custa do sofrimento de pessoas, em que o "jornalismo" dá lugar à "preversão".

Somos enganados por notícias que frequentemente vemos desmentidas e em que a verificação prévia da veracidade das mesmas, se tornou num custo adicional a evitar, a bem das audiências. E quando tal não é possível, o "sencionalismo" ou a deturpação na forma de apresentar as reportagens, procura obter o mesmo efeito, de forma descarada e maliciosa.

Somos embrutecidos com programas, nomeadamente de suposto entertenimento, onde a consciência do ridículo é transformada num desprendimento de valores e na aculturação de um povo.

Senão vejamos:

- Desenhos animados ou similares pejados de violência;
- Programas e consursos onde as pessoas são tratadas como anormais ou de inteligência residual;
- Espectacularização das opções individuais, sexuais ou outras, transformando pessoas em grotescas personagens do ridículo;
- Talk-shows impregnados de mau gosto, onde impera a parvoice;
- Reportagens exacerbadas da infelicidade e do drama;
- Telenovelas emitidas três vezes quase em simultâneo;
- ... .

Acho até que as estações actuais poderão adoptar as siglas:

... RTP 1/2 = Raramente Tentamos Programar (1ª/2ª tentativa, embora a 2ª seja melhor);
... SIC = Sem Interesse na Cultura;
... TVI = Talvez Venhamos a Informar.

É esta a televisão que queremos ?
Não existe uma autoridade que ponha cobro a esta situação ?

Todos sabemos que quanto mais inculto é um povo, mais fácil é manipulá-lo e só essa me parece a explicação plausível para o que está a suceder.
Só essa me parece a explicação para algumas personagens ainda subsistirem à nossa volta e à nossa custa.

Desta vez, não fomos tomados pelos espanhóis nem invadidos pelas tropas de Napoleão. Fomos colonizados pela mediocridade, somos explorados por crápulas e somos sucessivamente governados por gente que tem sido incapaz de tornar este país numa nação decente, onde os "majores", os autarcas fraudulentos, os pedófilos, os Albertos Jardins e tantos outros sejam submetidos à justiça que merecem.

terça-feira, agosto 08, 2006

Tributo: Agradecimento a Ana Luar

Existem pessoas que passam pela nossa vida fazendo-se acompanhar por um sentimento como se um aroma a flores nos invadisse a alma, transportadas no vôo fascinante das mais belas borboletas em anúncio de Primavera.
São pessoas que de algum modo chegam e deixam a sua marca de forma indelével que o tempo se recusa a apagar e a memória saúda a cada segundo que passa, numa saudade constante e insaciável.

Com efeito é este o sentimento que me tomou a alma, ante a surpresa das palavras que sobre este blog vi publicadas, que menos as entendendo merecer, mais atestam a simpatia e a generosidade da Ana Luar, que no blog do mesmo nome, sendo a autora das mesmas, lançou neste espaço o feitiço do encantamento que aqui lhe é igualmente dedicado.

Quando a inteligência, a criatividade e o sentido da beleza se juntam em harmonia, revelam inevitavelmente a pessoa que, apesar de remeter aos demais tais predicados, ela própria se apresenta na posse dos mesmos na sua forma mais intensa.

Obrigado Ana Luar, num agradecimento consciente, que apesar de forma insuficiente, procura retribuir todos os sentimentos já testemunhados de apreço e de dedicação que lhes estão subjacentes, numa vénia em que humildemente lhe tomo as mãos para nelas depositar o mais devoto dos beijos.

quarta-feira, agosto 02, 2006

A orgia de sangue ... o crime à solta

Matamos, porque temos de nos defender ...
Defendemo-nos porque nos querem matar ...
Temos de ser implacáveis com o terrorismo ...
Chamam-nos terroristas porque defendemos a nossa terra ...
...
Deus está do nosso lado ...
Allah guia-nos ...
...

Este é o guião da morte, onde os actores são muitos e os espectadores são ainda muitos mais, em que uns aplaudem e outros limitam-se a ignorar enquanto os cenários tomam conta da realidade diária da destruição e do assassinato.
Sim, assassinato porque aqueles homens, mulheres e crianças, não morreram, foram roubadas à vida, foram assassinadas por fanáticos, políticos e generais e estes, sim, quais mortos de alma, alimentam-se insaciados, do sangue das vítimas.

Não importa se as vítimas são judeias, cristãs ou muçulmanas, são tão somente vítimas, e são inocentes, porque os verdadeiros culpados somos nós.
Somos nós que impávidos ficamos aos que rezam de armas em punho sobre a Tora,
Somos nós que impávidos ficamos aos que rezam empunhando as armas e o Corão,
Somos nós que impávidos ficamos aos que rezam empunhando as armas e a Bíblia,
Somos nós que impávidos ficamos aos que alimentam as guerras enquanto pavoneiam a imbecilidade que lhes coroa o espírito que já não têm, contra terroristas que são eles próprios, em nome duma Liberdade e Justiça que desconhecem.

Não importa se as vítimas são judeias, cristãs ou muçulmanas, porque aquela criança que foi assassinada era minha também, e aquele pai sou eu também que desesperado procuro acordar de um pesadelo que afinal é real e onde os criminosos existem impunes, numa orgia infernal que alimentamos submissos e impávidos.

Hoje um dos meus filhos dormiu sereno enquanto o outro foi assassinado por judeus, árabes e cristãos. E eu naquele pai, chorei desesperado também porque as balas que o mataram tinham ainda o cheiro dos livros sagrados que estavam nas mãos de quem as disparou e ouvem-se ainda as vozes de quem mandou disparar.

Hoje o holocausto estendeu-se mais um dia, e as estrelas de David e as cruzes gamadas apenas mudaram furtivamente de mãos quais testemunhos numa corrida de morte e assassínio.
Sei como àquele pai, que ninguém ouvirá o meu pranto, mas com ele choro em silêncio a dor dos inocentes que ninguém quer ouvir.

sábado, julho 29, 2006

A poesia nos blogs

No dia 29 de Julho saiu finalmente o livro "a poesia nos blogs" no qual se encontram poemas existentes em vários blogs do espaço nacional.

Trata-se de uma iniciativa de mérito, que testemunha alguma da surpreendente poesia que pulula quase anonimamente o espaço cibernético nacional e não só.
Estão de parabéns todos os participantes e merece o nosso aplauso o Jorge Castro do blog "Sete Mares" que com a sua pro-actividade soube mostrar que muitos desejam, alguns querem, mas apenas alguns como ele efectivamente realizam.

Quanto à minha parca e pretenciosamente discreta participação, dedico-a contudo, àqueles que como eu, passeiam descontraídos neste espaço bloguístico, em especial aqueles a quem diariamente dedico a minha atenção.

quinta-feira, julho 27, 2006

Leite e Mel sobre as dunas

É o rubro da magia dos sentidos.
O Sol uniu-se ao despertar e levanta-se como um véu fino, estendendo-se sorrateiro na languidez do dourar as dunas como se acariciasse de mansinho as curvas sensuais da mais bela das odaliscas num harém onde só cabem os amantes.
O calor intenso denuncia os corpos sedentos na impiedade dos sentidos, onde a areia fina se esgueira num imenso mar dourado de entrega e abandono.

Ao longe, anda lenta uma longa caravana que percorre a passo cadente o curvilíneo do horizonte, num bailado cúmplice de sombras onde se deleita a mais pura visão do prazer.
O calor nota-se ardente de desejo e mistura a respiração com o odor do êxtase, sucedendo-se em vagas de leite e mel, numa sede que não acaba nunca.
E quando ainda o Sol se deita com os corpos já cansados, um luar emerge num céu anilado cor de fogo, brotando abundante da Lua que tomou a cor verde dos prados dos sonhos de Amor.

domingo, julho 23, 2006

Fragmentos

Vêem de mansinho, quais felinos de andar manso e olhar fixo, procurando no fascínio encontrar a fechadura dos sentimentos que nos desarmam cada vez mais a cada momento que passa.
Recorrem à inteligência, ao encanto e até ao desejo de bem fazer e que por mal não se tomem, não vá a máscara cair em cascatas de verdade que se esconde por detrás das boas intenções, fazendo-nos regressar ao bom senso de ignorar o que não é verdadeiro.
Apelam a quem acuda, mesmo que se alimentem, não só da dádiva como da mão que a fez, reduzindo a pó o que antes era muralha, quase sempre fazendo do direito o que antes era mais um dever.
Fazem triste, tudo à passagem, como uma praga de maldição, que transforma em fragmentos, o melhor dos sentimentos, ou talvez não.

sexta-feira, julho 21, 2006

Eis que vos vejo

Caminhem sorrindo, que felizes se acham,
Antes por caminhos, que achem floridos,
Mais por encanto do que deveras garridos.

Clamem assim de contentamento,
Numa voz que de contente, se chama,
Para que se diga que não goste mas ama
Crendo ser esse o entendimento.

terça-feira, julho 18, 2006

Ensino: Alunos, Professores e Mestres-escola

Nos últimos dias tenho, à semelhança dos demais, assistido à novela (para não dizer tourada que a época agora é disso e por respeito aos alunos e à grande maioria dos professores) dos exames do 12º ano, alguns dos quais, aparentemente elaborados incorrecta e se for verdade o que por aí se diz, vergonhosamente.

Mas infelizmente, este não é um caso isolado, nem agora o Ministério da (In)Cultura ou da Educação ou de outro nome qualquer, que titule o ensino em Portugal, é pior do que tem sido antes.
Infelizmente, depois de Abril de 1974, ainda não apareceu um governo que dê ao ensino em Portugal, a atenção que este merece, uns por receio político (não sei de quê) de adoptar modelos do "passado", outros por estão revestidos de alguns "cursos superiores", daqueles que são usados como "refugo" de nada servir e de nada saber, outros ainda, porque são incapazes de resolver os problemas do ensino em Portugal, submissos à crença política generalizada de que quanto mais desapercebido o político passar, mais probabilidades tem de subsistir no aparelho do Estado, hibernando à espera da reforma choruda que saqueou ao desgoverno.

Ensino Básico:

Sim, aquele, que antigamente chamávamos de "Ensino Primário". Aquele que durante anos teve manuais que frequentemente passavam de mão em mão e que muito dinheiro pouparam a quem os reutilizou. Aprendia-se na mesma a ler, a escrever e a contar.
Hoje os manuais são escolhidos de acordo com os critérios das escolas, e quiçá, dos lobbies das editoras junto das mesmas. Mudam-se os anos, mudam-se os manuais, e por vezes mudam-se estes durante os anos, quando as necessidades de aprender são ainda quase as mesmas ao longo dos anos.
E porque acontece isto ? Porque se desperdiça tanto dinheiro ? Por simples incompetência e inoperacionalidade do Ministério da tutela que é incapaz de definir os manuais obrigatórios para um número de anos alargado.

Ensino Secundário:

Sim, foi este o ensino que durante décadas alimentou a capacidade produtiva deste país, com as escolas industriais, comerciais e os liceus.
Sim, foi este o ensino que deu de comer a famílias e ganhou o respeito além fronteiras, quando se expunha e dava a conhecer a capacidade dos técnicos e operários portugueses.
Hoje a palavra "operário" causa urticária a muita gente, uns porque são políticos e usar tal palavra os parece aproximar duma qualquer ideologia marxista ou algo do género, outros porque a recusam enquanto nada fazem ou fazem algo que de nada serve.
Porque acabaram com os modelos de ensino que ensinavam a trabalhar e a produzir ?
Primeiro disseram que as crianças ainda não tinham capacidade de decidir sobre o seu futuro. Pois, na altura ainda não existia a disponibilidade de técnicos / psicólogos que os ajudassem a identificar aptidões e tendências.
Óptimo, então hoje temos alunos que chegam até à idade adulta, e continuam a ser incapazes de escolher um futuro, porque aquilo que vão descobrindo de que gostam, não tem saída no mercado e acabam por ir frustados e profissionalmente sem preparação, "pairar" nas empresas num emprego qualquer de ocasião que um amigo lhes arranjou.

Ensino Superior:

Englobo aqui, a abordagem do 12º ano, que anterirmente também foi o "Ano Propedéutico". Para que serve, na realidade, um ano escolar, onde se pretente, segundo o que já foi indiciado, reavaliar todo o ensino secundário, ou preparar os alunos para a realidade das universidades? No mínimo, diria que este ano serve apenas de atraso da vida escolar dos alunos, para não falar das condições degradantes com que o Ano Propedêutico foi constituído e após ele, o 12º Ano.
A somar a isto tudo, temos um ensino superior, em nada conectado com o ensino secundário, ou seja, são duas realidades distintas que não se complementam nem dialogam.
Lembro-me de algumas "cadeiras" de engenharia onde se pretendia em magros semestres leccionar o que supostamente se teria aprendido no antigo curso geral das escolas industriais. Lembro-me de professores ´da cadeira de "Electromagnetismo" do Instituto Superior Técnico de Lisboa, em atitudes arrogantes, regozijarem-se do elevadíssimo índice de reprovação nos exames, cujo conteúdo da disciplina em causa, para os alunos de Engª Mecânica, para além de ser usual levarem vários anos para conseguirem fazê-la, pouco mais servia do que inspiração para o desprezo que lhe votavam quando almejavam os míseros 10 valores.
Lembro-me de professores (assistentes sobretudo) em atitudes de histeria, como um que vi na cadeira de Mecânica de Fluidos, que ocupava o tempo das aulas em deduções matemáticas, e ignorando os fundamentos da cadeira que leccionava, isto para não falar na completa ignorância que tinha sobre bombas hidráulicas, onde misturava os conceitos, de forma plenamente anedótica.

É este o ensino que pretendemos ?
E quem avalia de forma credível e honesta a capacidades dos estabelecimentos de ensino e dos seus docentes ? E quem o sabe fazer ?
Qundo se separa o trigo do joio, em matéria de docentes, evitando misturar todos numa amálgama de malfeitores ?
E quem avalia efectiva e eficazmente a capacidade e a viabilidade dos alunos, face ao seu desempenho e perspectivas no ensino que frequentam ou pretendem frequentar ?
Quem gere a comunidade escolar, nomeadamente de forma a evitar que alunos fiquem a "estagnar" em estabelecimentos de ensino, só porque estão na idade obrigatória de frequência escolar, sem que contudo tenham o aproveitamento mínimo exigível ou o comportamento cívico exigível, sem que por vezes os professores possam fazer algo ?
Quem acompanha efectivamente os alunos, evitando, impedindo ou alertando para situações de índices escandalosos de reprovações, para professores que aparecem nas aulas aparentemente drogados, para alunos de histórico excepcional que de repente passam a ter notas baixas, para aulas que são leccionadas por nomes sonantes da sociedade e cujas aulas são imcompreensíveis, para alguns professores que se tornam "pequenos reis" nos seus decrépitos departamentos das universidades ? Quem ? O Ministério ? Não me parece, pois nem internamente demonstra discernimento para emitir exames correctos e adequados.

É nesta torrente da ignorância e mau ensino, que alunos passam a professores e a alguns metre-escola (esses que recordamos com saudade) e outros, talvez os que menos aprenderam até se tornam gente que se pretendia respeitável, com responsabilidades no ensino em Portugal.

Por mim, no ensino, salvo raras excepções, bastaria voltar a 1973 e implementar liberdade e condições de acesso ao mesmo. Voltaria a formar, operários, técnicos, mecânicos, electricistas, enfermeiros, médicos, engenheiros, etc.. Chamem-lhes o que quiserem, mas aos 18 anos (os que ainda não tinham entrado nas universidades), todos eles sabiam trabalhar e produzir alguma coisa.

quinta-feira, julho 13, 2006

Quisiera yo


Quisiera yo que mi cuerpo se disolviera en el viento para portarme junto de ti, mientras digo à la luna para llamarte á la ventana para que me dejes entrar en tu espacio.

Quisiera yo besar l’agua, mientras las olas porten mis besos cubriendo tu cuerpo cuando te bañas en la mar.

Quisiera yo que no deseara todo esto, para que no fueras bajo la luna, tu, la deseada.

terça-feira, junho 13, 2006

Ilda: 13 de Junho de 1950 ... 16 de Outubro de 1955


Minha irmã, a minha história começou quando tu nasceste. A tua só terminará quando te conhecer.
Repousa em paz.

terça-feira, junho 06, 2006

O Aprendiz

Capítulo I – A travessia (este cápítulo já foi publicado em Abril/2006)

Amanhece com o sol a espreitar timidamente pelas janelas que as nuvens combinaram, aspergindo o lugar com um calor calmo, que o crepúsculo teima cada dia em tomar de posse no cacimbo da noite.
O corpo eleva-se lentamente num abandono do lugar onde antes repousara, emprestando a sua forma no leito de areia, num testemunho onde a realidade e o sonho se olharam de frente durante o sono.
Avança solenemente ao compasso do silêncio até à beira da água, pelo caminho que os pés nús foram traçando no espaço que o dia prometeu até à chegada da Lua.
Recolhe-se à pequena barca de madeira de acácia, tomando nas mãos as ferramentas com que há-de dar forma à pedra que o aguarda na outra margem, onde nasce o Sol, anunciado pelo aroma das rosas que o vento transporta no tempo.
Guarda as últimas recordações enquanto se liberta das amarras, para tomar nas mãos o leme que a bondade governa enquanto a vela se ergue revolta, enfunada pela alma.
Por fim, a embarcação avança, na travessia que o prendeu, enquanto as ondas lhe anunciam a viagem até ao porto de abrigo, onde mestres e aprendizes trocam artes e conselhos, num renascimento constante.

Capítulo II – O aprendiz

A viagem fizera-se mansa quando o peito se ofereceu ao vento enquanto as águas que o acompanharam se fizeram submissas à roda de proa, que decidida fizera da rota traçada a oriente o seu caminho.

Deixara para trás o dia profano e um novo já acorrera sem espera do outro lado, à chegada do homem igualmente renascido.

A subida da margem fizera-lhe mais próximos os sons e os homens, onde os malhetes e cinzéis traçavam na pedra a vontade que os esquadros e os compassos mediam no conhecimento de um novo templo.
Assim, entre iguais, igual se fizera na alma e nas vestes, fazendo seu também, o trabalho que os demais levavam por diante, quais cruzes transportadas por um mosaico de apóstolos, quais irmãos de uma mesma família formada por homens livres e iguais.

Tornara-se então neófito, na sabedoria, na força e na beleza, onde entre companheiros, o lugar de aprendiz lhe concedia o direito e a vontade de aprender mais, que o saber de mestres lhe haveria um dia de desmentir, por mais ainda haver por aprender.

quinta-feira, junho 01, 2006

1 de Junho - Dia Mundial da Criança


Hoje é o Dia Mundial da Criança
Hoje esta criança está a morrer à fome porque onde ela está não lhe chega a comida.

Hoje fui almoçar e havia comida, mas ela não estava lá.
Hoje milhares de governantes e políticos empanturraram-se como eu, mas ela não foi lembrada lá.
Hoje o Santuário de Fátima vai continuar a ser ampliado com os milhões de euros de ofertas dos devotos, mas ela nunca irá lá.
Hoje milhares de operários empanturram-se como eu nas cantinas das fábricas das armas que matam o país desta criança, mas ela ainda está lá.
Hoje, milhões de cristãos, muçulmanos, hindús, judeus, budistas e outros crentes, vão rezar por esta criança, mas ela não os verá.
Hoje milhões como eu, falarão desta criança, mas ela não nos ouvirá.

Hoje esta criança está a morrer à fome porque onde ela está não lhe chega a comida.
Hoje o meu filho chorou porque não queria comer o que lhe deram.
E eu choro pelos dois, porque qualquer um dos dois pode ser o meu filho.

Hoje é o Dia Mundial da Criança. Será mesmo ?!

terça-feira, maio 30, 2006

Sabedura do Deserto

Eis que me apresento a vós cristandade e mouraria, de meu nome Sheikh Al-Ali Taj Mahal Hamas Adhir Hassim, um vosso criado e figura importante do jet-set, ou seja do camel-set deste deserto, onde as dunas dão vida a este blog.

Quiseram os deuses que periodicamente vos venha comentar de faladura sábia, assim o profeta me inspire.

Sabor a romãs no deserto ...

Pois assim foi, botei os arreios no camelo e fiz-me às caravanas bloguísticas. Passaram luas de caminho sereno, onde o sol me açoitou o cabedal e o couro cabeludo que deste, na verdade se vai rareando, pr'a grande gozo do camelo que acha mais pêlo na cauda do que eu nas latitudes acima dos ombros.
De cansado me encontrara e da areia farto, que teimosa se agarra a tudo quanto alcança, mesmo nos momentos mais íntimos de alívio, moendo-me em comichões dignas de um mártir.

Eis que do alto da bossa da montada avisto fruta madura e rubra quais faces de donzela envergonhada em dia de guloseima. Eram romãs, suculentas, sadias e poéticas que no mais frágil dos cestos brilhavam o blog da Paula. Eram assim, na tribo, conhecidas pelas Romãs de Paula.

Pelas barbas do profeta, pelas almas do deserto e pela comichão que me assola. Acha-se ali ela, em palácios de poesia, num anúncio de uma mulher como as outras, que à cautela avisa caminhar a 300 por cento, enquanto nos embala em poemas das 1001 noites, ou seja 1000 noites porque uma fica de caução, não fosse eu fugir com a mobília.

Dei-me assim por amores por aquela escrita de poesia, que muitos mais comigo se acharam em comentários, onde os nobres filhos da mesma, Rita, Bruno e Gustavo , ganham assento de privilégio na devoção à dança do ventre, donde brotam as palavras em saques de rimas, capazes de encantar até o mais renitente dos dromedários.

Achei-me então de conversa com os céus, sobre tal moura encantada e seus amores, na inquietude de pensar como seria para estes, caminhar no deserto com uma mulher daquelas.
Aquele cabelo da cor e o ondular das dunas, enfeitando uns olhos da mesma cor, capazes de enfeitiçar o mais maricas dos homens e fazer ajoelhar o mais paralítico dos infiéis.

Oh pobre camelo e companheiro, quanto esforço por seguir uma mulher que anda a 300 por cento desafiando a mais resistente das sandálias, até que se gastassem as já curtas pernas, no risco de arrastar os ditos pelo chão.
Oh inclemência do além que no feitiço atormentas em deleites de odalisca com tal escrita aos que ousam chegar a tal oásis de poesia.

(este post é dedicado à Paula Raposo e ao seu blog onde a sensibilidade e a inteligência denunciam uma mulher, que de facto, não é como todas as outras)

sábado, maio 27, 2006

Um povo adormecido, um país adiado

Nunca me moveu nenhum sentimento homofóbico e até confesso admirar alguns homossexuais que numa postura discreta e serena, enfrentam diariamente preconceitos, injustiça e todo um rol de inconsistências sociais, que já deveriam ter desaparecido.
Com efeito, sou dos que entendem por bem, a autorização de casamento entre dois indivíduos do mesmo sexo e não aceito a condenação dos homossexuais por parte da Igreja, pois esta deveria ter sempre uma atitude contra a exclusão social, em vez de a provocar.

Contudo, uma coisa é a orientação sexual de cada um e outra é procurar enfatizar uma postura, não diria "gay" por respeito aos que o são, mas "amaricada" no sentido negativo do mesmo.

Estou farto de ser constantemente bombardeado, sobretudo na TV com palermices mais ou menos amaricadas e/ou mais ou menos anormais, em programas, que supostamente poderiam ser de maior divertimento.
São os "Nunos Eirós", os "Níltons", os "Danieis Nascimentos", os "Serginhos" e os "Cláudios Ramos" que em trejeitos de gosto duvido reduzem à imbecilidade uma actividade, que deveria ser cultural, a de ver televisão.

De facto o nível (ou falta dele) geral dos programas que temos, é tão baixo que levanta questões sobre a sanidade mental de quem permite alguns dos programas nas cadeias de televisão.
São as horas infinitas de telenovelas, apenas entrecortadas por notícias do futebol ou de qualquer desgraça alheia, transformada num circo montado sobre o sofrimento dos outros, qual coliseu romano infestado de aplausos ante o sacrifício dos cristãos.
Claro que todo este bolo condenado a vómito, não ficaria decorado sem o nosso José Castelo Branco, não porque ele seja como é, pois que tal lhe confere o mais legítimo dos direitos, mas porque tal nos encharca constantemente os serões, ora em circos, paradas e quintas, ora em programas sem qualquer interesse ou graça, secundados por grotescos Alexandres Frotas.

Quando foi que qualquer de nós teve acesso a ver na televisão uma ópera ou opereta ? um programa de bailado ? um concerto de música clássica ? um teatro ? um bom programa cómico com artistas de verdade ?
Quando é os artistas para os programas são escolhidos pelo seu real valor e aptidão profissionais, em vez do tamanho do cú ou das mamas, da voluntariedade de se despirem ou supostamente se bamboliarem amaricadamente ?
Quando é que na televisão, um qualquer programa de qualidade deixa de ser visto como uma raridade digna de gravação par ser revista, aliviando os ecrãs privados da nojisse constante na televisão ?

Todos sabemos que esta barbárie, não é um fenómeno isolado dentro da nossa sociedade e nem aparece por acaso.
Todos sabemos que quanto mais embrutecido e ignorante é um povo, menos ele é capaz de pensar e de reagir.
Todos sabemos que quanto mais mobilizados os indivíduos para bandeirinhas, hinos e aplausos dirigidos a selecções milionárias de futebol, menos reagem aos aumentos descomunais de combustíveis ou de bens essenciais.
Todos sabemos que quanto mais absorvidos estivermos com as inaugurações, jogos e comícios, menos nos apercebemos que nos palcos das mesmas, se encontram os que estão envolvidos nos escândalos de "apitos dourados", de "reformas escandalosas", de "processos fraudulentos", de "jobs for the boys" ou de supostos pedófilos, corruptos e corruptores afrontando o poder judicial.

Quantas as bandeiras que enfeitaram carros, janelas e fachadas, a pedido do seleccionador nacional, numa mobilização geral em torno da selecção.
Raras as faixas negras ou gravatas da mesma cor, a sugestão migrada na net, em protesto contra a exorbitância e aberração de algumas reformas atribuídas a alguns políticos.

Não admira ser Portugal o 3º consumidor de alcoól, pois só assim se justifica a embriaguez com que lidamos com a realidade que nos cerca. Só assim se justifica o coma social e não se cumprir o hino que nos impele a ser um "nobre povo" e "levantar hoje de novo, o esplendor de Portugal" numa nova "marcha contra os canhões".

quinta-feira, maio 25, 2006

Fraternidade

É meio-dia e neste momento um amigo de amigos meus foi entre cravos e lágrimas para a sua última viagem.
Não entendo a emoção que sinto, pois eu não o conhecia e pouco ouvira até então, falar dele. Ouço os soluços quase em silêncio dos que o conheciam, na exaltação das qualidades e até talvez dos defeitos, mas sobretudo num dos mais nobres sentimentos que tentam fazer de nós, seres gregários, o da Fraternidade.

Sim, a Fraternidade, esse sentimento, essa atitude, esse princípio, que ao longo dos tempos foi acolhendo as gentes em "famílias", "organizações", "partidos" e "movimentos".
Eram os amigos que se juntavam na alegria e na desgraça, quais "famílias" no sentido lato, que garantiam o que de outra forma era dificilmente alcançável.
Eram trabalhadores que se juntavam e associavam, ganhando força negocial e facilitando o anonimato na luta laboral.
Eram gentes que no desespero diário de sobreviver dão corpo a partidos na ânsia de que profetas políticos lhes ajudem a matar a fome num qualquer 25 de Abril que quase nunca acontece.
Eram pessoas que se juntavam por causas aparentemente únicas, colocadas no vértice duma pirâmide imensa de necessidades de movimentos de ajuda.
Eram... são... e continuam a ser gentes, pessoas a quem a Fraternidade é por vezes a companhia de quem está só, o pão que lhes mata a fome, a mão que os ajuda a levantar, a emoção de chorar em conjunto, o suspirar pelas mesmas dores e o cantar em coro pelas mesmas alegrias.

É a Fraternidade que fez conhecido aquele amigo dos outros que hoje partiu, aquela mulher idosa que dedicou a vida a tratar os abandonados e doentes, aquele homem que deu instrução a quem aprendeu e tantos outros que estão sempre onde os esperam.

Amanhã será meio-dia e depois de amanhã outra vez, e continuará a fazer sentido que pessoas, gentes se juntem, partilhando as dores e os cantares, não porque sejam socialistas, comunistas democratas ou fascistas, não porque sejam portugueses, franceses ou de qualquer outra nacionalidade, não porque sejam brancos, pretos ou amarelos, não porque sejam deste ou daquela sindicato ou religião ... mas porque queiram ser gente, assumir a posição de pessoas, de indivíduos, de serem amigos do seu amigo, de se verem entre si como num espelho e serem capazes de trazer outro amigo também.

(texto dedicado aos que na Fraternidade, na Amizade, na Solidariedade, na Igualdade e na Liberdade encontram a sua postura natural de vida)

terça-feira, maio 23, 2006

Faleceu Fernando Bizarro

Faleceu hoje um elemento muito especial da comunidade Blogueira nacional, Fernando Bizarro do blog Fraternidade, dinamizador dos encontros entre bloggers por altura dos equinócios, como o Blognócio do Outono realizado em Outubro de 2005, o Blogstício de Inverno realizado em Janeiro de 2006 e o Blognócio da Primavera realizado em Março de 2006.

Para os que se queiram despedir do fernando Bizarro, poderão fazê-lo amanhã, a partir das 11h00, na Igreja Velha de Carnaxide.
O Funeral será na Quinta-feira, no crematório do Alto de S. João, às 12h00.

Os que o conheceram entendem por bem, levar-lhe um "cravo vermelho", acreditando que não há flor que ele mais gostasse que lhe levassem.

Eu não tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o Fernando Bizarro, embora tivesse várias vezes visto o seu blog Fraternidade. Contudo é também minha, a pena que os meus amigos sentem. Assim, junto ao dos demais amigos e familiares do Fernando Bizarro, o desejo de que repouse em paz, agradecendo-lhe o igual apreço pelo sentido de Fraternidade que lhe era reconhecido.

terça-feira, maio 16, 2006

La mer au milieu

Depuis que la mer est la,
Depuis que ta main me dit au revoir,
et je ne vois pas.

Depuis que les vagues me chantent cette chanson,
en me chantant des mots,
desquels je n’entends qu’un nom.
Un nom qui n’existe pas.

Je cherche et je ne trouve pas,
depuis que la distance existe.
Depuis que la mer est la.


Rui @t Blog, 5-11-1983

Pai: 16-Maio-1921 ... 11-Dezembro-2004


Pai, já cá não estás ... já cá não estamos os três.
Farias hoje 85 anos.
Descansa em paz.

sábado, maio 13, 2006

Fátima, a fé e a religião

Se todos os caminhos vão dar a Roma, naquele recinto, todos os passos se encaminhavam para aquele local apertado, onde as pessoas convergiam quais pequenas crias recolhendo-se nas asas da mãe, concentrando os olhares serenos naquela imagem alva onde as angústias são depositadas em preces confessadas mais ou menos em voz baixa.

A fila de gentes, ora de joelhos, ora de rastos, segue em silêncio o caminho marcado no chão, onde as lágrimas tentam em vão quebrar a dureza das pedras salpicadas das marcas das feridas dos que fizeram das promessas o ponto extremo da sua devoção, seja em agradecimento, seja em sacrifício na busca da ajuda que na probabilidade encontre pouca sorte.

Os ramos de flores emprestam às velas sortidas na forma e altura, com que se cruzam em passos apressados, aromas fugidios que se juntam às pequenas chamas votivas, tentando estas prolongar no espaço e no tempo a recordação dos entes a quem foram dedicadas.

Passam sacerdotes, monges e freiras.
Passam cónegos e auxiliares.
Passa gente de olhar triste, enquanto outros em cantares.
Passam emigrantes, gente simples e gente abastada.
Passam crianças, idosos e outros que já não esperam nada.
Passam polícias, políticos e até ladrões.
Passam até alguns que rezando bem alto, se esquecem da condição de vilões.

Passa aquela mãe que desesperada, veste o filho doente e fraco de anjo, esperando conservá-lo mais tempo com o bálsamo das suas lágrimas, reclamando à imagem de Nossa Senhora a simpatia de quem também já perdeu um filho.

Passam ateus, agnósticos e de outras confissões.
Passa tanta gente, meu Deus.

Porque não ficam ? Porque não estendem no recinto uma longa mesa com pedras de catedrais, onde nos actos votivos e orações, todos se juntam numa primeira ceia, partilhando o pão e o vinho e até as lágrimas e as angústias ?

domingo, maio 07, 2006

Dia da Mãe


Mãe,
eu sei que não irei decorar os beijos que te dou com as palavras que aqui plantei, pois o teu tempo já não se dispõe a ler nem te cobra os cuidados da maternidade.
Eu sei que as flores que te dou hoje já não têm o aroma de outros tempos, nem os espinhos das rosas já te cobram na pele o perfume de outros dias.
Eu sei que que as horas de ontem são apenas imagens que a igual custo guardas hoje e as dores de outrora já não passam o espaço que te guardei.

Mãe,
olha o Sol que já se levantou,
olha as núvens que apenas trazem a chuva que já não te molha, e agora a trovoada é apenas a música descompassada do tempo.
Os cães já não uivam e as hienas já não mordem, e os cuidados que me deste, são agora os teus pelo mundo que te chega por mim.

Mãe,
eu sei que não irei decorar os beijos que te dou com as palavras que aqui plantei, pois agora é meu, o tempo de cuidar de ti.

segunda-feira, maio 01, 2006

1º de Maio

Foi o 1º de Maio dos que trabalham,
foi também dos que não têm trabalho e querem trabalhar,
foi dos que têm trabalho e não querem trabalhar,
foi dos que trabalham e não têm salário,
foi dos que têm salário e não trabalham,
foi também dos que trabalham e temem deixar de trabalhar,
foi dos que querem deixar de trabalhar;

Foi dos que quiseram estar juntos e comemorar,
foi também dos que se separaram e fizeram festejos,
foi dos que não fizeram festa por estarem tristes,
foi também dos que estavam contentes por não festejar;

Terá sido o 1º de Maio ?
Ou foi apenas o feriado do 1º de Maio ?

terça-feira, abril 25, 2006

De 24 ao 26 de Abril

O dia ainda não se tinha decidido a nascer e já a porta denunciava alguém que teimava em bater-lhe com mãos habituadas a tocar de mansinho, de forma furtiva e cautelosa.
- Que é pá ? Que se passa ? Perguntou o meu pai estranhando tal procedimento, antevendo que algo de grave havia acontecido. Ele, que sabia o que valiam aquelas pancadas na porta.
- Não vás trabalhar, parece que houve um golpe de estado. Tenho estado a ouvir a rádio. Acrescenta o amigo aquela preocupação à longa amizade que os unia desde sempre. Aquela amizade que nascera e crescera na cumplicidade de entreajuda ao longo dos anos, sempre que um deles necessitava, sabendo encontrar no outro a resposta que o próprio daria em qualquer momento.
O resto do dia estendeu-se em risos, sorrisos e receios nocturnos que só a insistência dos comunicados veio acalmar como ar novo numa forja já quente ao rubro.

Era o 25 de Abril e era o ano de 1974.
Era a fome e a miséria que alimentavam o dinheiro com que se tomavam as vidas, a liberdade, a saúde e o direito a aprender para saber mais.
Eram os que na calada da noite passavam fronteiras para fugir a guerras que não entendiam, eram pretos que matavam os que como eles também não percebiam.
Eram as bocas que calavam os corpos torturados pelas denúncias dos que pouco ou nada viam.
Eram as cabeças que se vergavam em orações que os adormeciam.

É o 25 de Abril e é o ano de 2006.
A fome e a miséria numa vergonha que já pouco dá para esconder, agora com liberdade para soltar as queixas, continuam a alimentar os que lhes inutilizam as vidas no desemprego e sem meios para poderem aprender mais.
As armas, e as fugas tornaram este silêncio cúmplice dos que converteram as torturas e as denúncias em discursos e acusações repetidos numa cantilena partidária de poder.
As cabeças ora erguidas encondem almas que quedam vergadas quando se privilegia o 24 de Abril na Madeira, quando deputados na falta de vergonha escapam ao trabalho, em suma, quando não se faz justiça.
A solidariedade e a liberdade, voltaram às orações em bocas que continuam secas.

domingo, abril 16, 2006

As últimas ceias

Para os cristãos, Jesus Cristo terá sido o Cordeiro de Deus que foi crucificado para salvação e libertação de todos do pecado, cuja morte terá ocorrido no dia da Páscoa, facto que Ele teria antevisto durante a sua última ceia com os seus discípulos.
Não conheço tradição religiosa com igual paralelo em cada um dos nossos dias, e esse facto faz-me recordar os quantos são diariamente imolados, ainda que sem qualquer propósito de salvação ou purificação.

As ceias repetem-se entre familiares, amigos ou colegas, onde os supostos “Judas” tomam agora os nomes de Bernardos, Jaimes ou Josés, substituindo os beijos da traição, pelas mentiras, falsas acusações ou difamações. Lembro-me particularmente da afirmação de um antigo colega depois de uma dessas ceias de colegas, quando me confessou que se para se “safar” tivesse de “entalar” um colega, não hesitaria em fazê-lo, algo que sem escrupulos, foi demonstrando ao longo do tempo.

Não nos faltam Manueis, Pereiras ou Paulos, que por inveja, despeito ou apenas antipatia, oscilando entre Sinédrios ou palácios, em papeis de Caifás ou de Pilatos, não hesitam favorecer quaisquer Barrabás à mercê dos seus intentos, nas empresas, organizações ou departamentos, com carreiras construídas à custa dos que impune e injustamente condenam.

Não nos faltam sequer os que martirizando os que no trabalho e na honestidade se refugiam para alimentar aqueles que troçando dos Simões e das Verónicas, usam iguais milícias romanas a mando dos que se banqueteiam em repastos dominicais, comendo avidamente os cordeiros já emagrecidos pela aridez da sociedade de que alimentam.

Lembro-me de facto, dos que têm fome, dos que não tendo nada, não se podem sequer sentar à mesa para receber o pão e o vinho que lhes é devido.
Lembro-me dos que, com avidez insaciada, se passeiam impunes nos Sinédrios e palácios onde os discípulos da bondade reclamam justiça, venha ela de Deus ou do Diabo.

Tenham, apesar de tudo, uma boa Páscoa, sobretudo os que de alma livre, fraternalmente enfilam nas hostes a par do Calvário, que os demais teimam em ignorar.

sábado, abril 15, 2006

Judas Iscariote ... vítima da memória curta ?

Sempre vi Judas Iscariote ser remetido para o recanto dos traidores, sendo frequentemente usado como modelo de comparação para aqueles que de algum modo, traiem os que neles confiaram.
A descoberta e divulgação recentes do manuscrito a que se tem chamado de "Evangelho segundo Judas", veio levantar de novo a questão sobre a hipotética traição de Judas sobre Jesus, agora referindo-se que aquele se limitou a cumprir a missão que este lhe confiara, como o derradeiro sacrifício, decerto acolhido com a condenação dos demais discípulos e crentes.

No entanto, há uma questão que sempre me pareceu evidente "que levaria um discípulo, após uma vivência comum com os demais discípulos, certamente com a mesma devoção e fervor, atraiçoar aquele que era o seu mestre, que tanto adoraria como os restantes ?". "Qual a lógica da actuação atribuída a Judas, sabendo o resultado que isso traria ?"

Será que os restantes discípulos de Jesus, esqueceram todo o tempo que viveram em comum com Judas, para o condenar numa actuação inesperada, que aparentemente não compreederam, colocando assim, em causa, num momento, a experiência de anos ? Será que esqueceram todos um dos aspectos que fora ensinado, o da "confiança" ?

Não me parece que o conhecimento do "Evangelho segundo Judas" venha alterar a posição "franchisada" que a Igreja Católica tem vindo directa ou directamente a fomentar. É sempre mais fácil ignorar que corrigir, mas a verdade, essa será só uma , mesmo que leve mais 1700 anos a ser conhecida de todos.

De facto, quantos de nós vimos condenar em momentos, sem piedade, aqueles que durante anos ganharam a confiança, só porque actuaram, aparentemente sem razão ?
Como é curta a memória dos homens, sejam eles discípulos, ou gente vulgar.

Dinastias ...

Apesar de as hostes monárquicas não encontrarem em mim, conhecedor de lógica assumida para tal forma de governar, não significa que o "hábito" torne em "monges" republicanos os que este regime professem.

Quase todos conhecemos o actual pretendente ao trono de Portugal, Don Duarte Pio, Duque de Bragança. Quase todos assistimos ou fizémos parte de expontâneas encenações, fazendo daquela pacata e aparentemente simpática e culta figura, alvo de chacota circunstancial. Ultrages a que a mesma, indiferente, remete ao sorriso calmo e sereno com que convive, mesmo com os que se confessam do outro lado da barricada política.

Talvez aquela serenidade venha de ver a ponte "Vasco da Gama", da principal rotunda de Lisboa "Marquês de Pombal", do centro comercial "Colombo", da casa "Pia", das escolas "rainha D. Leonor" e "rainha D. Amélia" e outras referências ao passado, que o presente não consegue ombrear, mesmo em períodos idênticos de governação. De facto, reconheçamos que perante D. Afonso Henriques, D. Diniz, D. Manuel I e a Ínclita Geração e Marquês de Pombal, a maioria dos governantes do nosso tempo, não passam de políticos da triste figura em posturas de velhos do Restelo, que nenhum Cervantes nem Camões, envergonhados, se atreveriam a imortalizar.

Com efeito, em oposição política à dinastia que o pretendente ao trono de Portugal pretende recuperar, nos submetemos a ciclos políticos que sistematicamente se renovam e renascem, ainda que não por direito de sucessão, mas por convénios de favores e conveniências pessoais.

Assim, a dinastias familiares, alimentamos dinastias políticas, com acólitos que frequentemente a dignidade desconhece, na arrogância do incumprimento do seu dever, perante os que submissos, os alimentam, como já outrora o faziam a outros, reconheço que muitas vezes, com mais sentido de Estado.

quarta-feira, abril 12, 2006

A travessia

Amanhece com o sol a espreitar timidamente pelas janelas que as nuvens combinaram, aspergindo o lugar com um calor calmo, que o crepúsculo teima cada dia em tomar de posse no cacimbo da noite.
O corpo eleva-se lentamente num abandono do lugar onde antes repousara, emprestando a sua forma no leito de areia, num testemunho onde a realidade e o sonho se olharam de frente durante o sono.
Avança solenemente ao compasso do silêncio até à beira da água, pelo caminho que os pés nús foram traçando no espaço que o dia prometeu até à chegada da Lua.
Recolhe-se à pequena barca de madeira de acácia, tomando nas mãos as ferramentas com que há-de dar forma à pedra que o aguarda na outra margem, onde nasce o Sol, anunciado pelo aroma das rosas que o vento transporta no tempo.
Guarda as últimas recordações enquanto se liberta das amarras, para tomar nas mãos o leme que a bondade governa enquanto a vela se ergue revolta, enfunada pela alma.
Por fim, a embarcação avança, na travessia que o prendeu, enquanto as ondas lhe anunciam a viagem até ao porto de abrigo, onde mestres e aprendizes trocam artes e conselhos, num renascimento constante.

terça-feira, março 28, 2006

Um dia para esquecer, ou não ...

Ele há dias que todos gostaríamos de esquecer, e até seria bom esquecê-los, se não fossem úteis a fazer-nos reflectir, mesmo que tal nos faça reclamar de esquecidos.
Mesmo assim, o dia até teria sido sofrível, apesar do desânimo que olhar mais pelos outros que por nós próprios frequentemente nos tráz, se não fora terminar ante o desespero de uma mãe perante a in(certeza) de perder o seu filho, ainda criança.

Não sei o que é perder um filho, e os deuses no mais impiedoso dos castigos, à mais cruel das desventuras me poupem, mas sei o que é aparecer no seio familiar após tal desacerto da vida.

Assim, o regresso a casa após um dia interiormente desiludido, relembrou-me o compromisso de pai, levando-me a conduzir o meu filhote à urgência pediátrica do Hospital de Santa Maria.
Bendito o alívio de ser informado da bondade viral de que o meu filhote tinha sido alvo, mesmo após um par de horas numa sala de espera, em estado condizente com a insuficiência mental do funcionário do hospital e do segurança que lhe fazia companhia.
Não quero e não gosto de menosprezar as pessoas que exercem a sua actividade profissional, excepto quando se sentem ou escudam no cumprimento de um dever, que nem sabem identificar qual é, seja do ponto de vista profissional, seja do ponto de vista humano e/ou moral.

De facto, aguardava a ansiada consulta com o pediatra, numa calma tacitamente assumida perante o barulho saudável das crianças que de pleno direito teimam em sê-lo, indiferentes aos lugares e preceitos.
De repente, uma mãe saía pelo hall de entrada, amparando com as mãos, a cabeça coroada por um lenço, como uma pequena capela deambulante, donde se soltavam gemidos de pranto embrulhados com as lágrimas de mãe. A dor tomava progressivamente a forma de uma cantilena monocórdica e triste, que ela recuperara da memória perdida por terras africanas que lhe deram o ser.
Passados momentos, juntou-se-lhe uma funcionária da limpeza, que igualmente saneando a alma aos que imóveis obervavam sem agir, lhe copiou o abraço que eu lhe queria dar enquanto cuidava egoistamente do meu filhote, emprestando-lhe o amparo que lhe desejava uma mãe igualmente africana, onde a tez escura da pele apenas fazia reluzir a brancura da alma.

Aquele curto espaço de tempo, tanto quanto me permitiu ficar ciente do ocorrido, levou-me a interpelar o segurança e o funcionário da recepção para que pedissem à urgência central apoio para aquela mãe, para que a sua dor e alma se podessem acalmar. Ambos, disseram que não podiam fazer nada, que não sabiam o que fazer, o primeiro representando fielmente a cor escura da farda que envergava e o segundo revelando a aptidão quase irracional que tinha para continuar a agrafar os papéis que segurava na mão, indiferente ao que se passava.
Perante tal estado, a minha repugnância e tom de voz fizeram coro ao nervosismo e à revolta que o desespero que por empatia assumira em forma crescente, exigindo que o cuidado fosse prestado, enquanto o segurança, decerto envergonhado e por insistência quase surda de um polícia que observara o que se passava, me informa então, que o pedido tinha sido feito.

A minha revolta fora entretanto adiada pelo chamamento para a consulta, após a qual, enquanto saía, entrava de novo aquela pobre mãe, amparada pela senhora da limpeza e uma enfermeira que procuravam acalmar aquela dor, que entretanto, silenciosamente também passara a ser minha, e se vergonha e solidariedade houvesse, também passaria a ser de todos os que ali estavam quietos.

Vim-me embora, mas confesso que a dor continua, para aquela mãe e para mim também. Ele há dias para esquecer, ou talvez não.

sábado, março 25, 2006

A culpa foi de Cristo ?!

Há dias ouvi na televisão que as certidões de óbito têm uma validade de 3 (três) meses.

Pois, a maior parte das pessoas dirá que quem determinou a validade das certidões de óbito estava louco ou mesmo embriagado.
Mas não, tratou-se mesmo de uma legislação cautelosa e culta, com uma daquelas culturas que raramente se encontra, tão guardadas estão, que só emergem para actos heróicos, dignos da melhor nata de decisores políticos (claro que não estou a falar de George Bush, mas de algo parecido, em termos de inteligência).

Foi de facto alguém com a visão milenar da experiência.
Pois digam-me lá o que teria acontecido com a certidão de óbito de Cristo ? E a de Lázaro ? E a de provavelmente mais alguns que Cristo possivelmente terá ressuscitado ? Ainda por cima, com a agravante de afirmar que todos se voltariam a ver após a morte.
Claro que o legislador ficou chateado e preocupado com tudo isto, que alguns ainda afirmam.

Sim, Cristo, esse cidadão subversivo que ia contra a ordem instituída, que provavelmente também teria expulso dos templos políticos actuais, muitos funcionários que conhecemos, quando exigem IVA a quem facturou e não recebeu, que teria expulso legisladores que exigem multas insensatas, que teria expulso governantes que se deixam conduzir a alta velocidade nas nossas ruas enquando punem severamente os restantes condutores.

Sim, está escrito o suficiente para determinar a culpa de Cristo, acompanhada dos milhões de fiéis igualmente culpados, que sustenta que os nossos legisladores têm razão na validade das certidões de óbito, talvez no receio, ou na esperança de que, sei lá, alguém do passado ressuscite, para lhes fazer coro num hino ao ridículo.